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“Hats & Chairs” – The Soaked Lamb

Rui DinisRui Dinis

Depois do surpreendente “Homemade Blues”, os The Soaked Lamb preparam-se para nos fazer chegar um novo álbum. O disco chama-se “Hats & Chairs” e tem edição prevista para 5 de Abril. Entretanto, a trompa aplicou-lhes a chapa do costume:

1. Numa frase apenas, como caracterizam o álbum “Hats & Chairs”?
Um álbum sentado à mesa, com muita gente, tendo o Blues como anfitrião e muitos convidados, como o Swing, o Ragtime, o Jazz, e até uma Valsa que ficou para o café. O disco não tirou o chapéu, mas não é por indelicadeza. É uma questão de personalidade.

2. O som dos The Soaked Lamb é marcado por uma estética muito própria, no entanto, se quiséssemos ser um pouco mais específicos, que nomes vos surgem como principais influências?
São mesmo muitas as nossas influências. Talvez por isso seja um pouco difícil de definir o som que fazemos. Pelo menos, numa só palavra.
São nomes como: Rev Gary Davis, Blind Blake, Django Reinhardt, Screamin’ Jay Hawkins, Vinicio Capossela, Ruth Etting, Tom Waits, Billie Holiday, Bessie Smith, Howlin’ Wolf, Leadbelly, Sanseverino, Colette Magny, Nina Simone, Chavela Vargas, Libby Holman, Paolo Conte, Ethel Waters, Ogres de Barback, Vera Hall, Chico Buarque, The Mills Brothers, Klezmatics, Squirrel Nut Zippers. E muitos, muitos mais.

3. Em relação a “Homemade Blues”, o álbum anterior, sentem que “Hats & Chairs” é de alguma forma um disco de ‘viragem’ ou é um disco de ‘continuidade’? Porquê?
Talvez de viragem em continuidade. Existe uma grande diferença que faz toda a diferença.
O primeiro disco foi gravado em casa e antes mesmo de existir banda. Foi uma ideia do Miguel Lima (bateria) e do Afonso Cruz (voz, guitarra, ukulele, lap steel) que foi tomando forma, e à qual se foram juntando pessoas. Um dia foi preciso tocar o disco ao vivo e só aí surgiu o primeiro ensaio da banda.
Este segundo, é o produto duma banda, que já têm uma personalidade própria, um número fixo de elementos (apesar de contar esporadicamente com alguns convidados), muitos concertos, e que foi desenvolvendo o novo álbum desde os concertos de promoção do primeiro disco, até ao momento das gravações. E foi todo gravado em estúdio.
Ou seja, o primeiro disco deu origem à banda, e este segundo é um produto dessa mesma banda.
Claro que isto muda bastante o resultado final. Mas as influências e os gostos musicais são os mesmos. E a estética final não difere assim tanto. Penso que se manteve a personalidade, sendo que a roupa tem outras cores. Mais cores que o azul do primeiro CD.

4. O novo disco contou com uma série de convidados. Como ‘aparecem’ no disco e que influência tiveram no resultado final?
Aparecem aqui e ali, em algumas músicas do disco. São amigos que admiramos também como músicos, e que conseguimos enganar sem eles darem por isso. Enfiámos-lhes um chapéu. As músicas em que participam, ganharam uma dimensão que não tinham só com os 6 membros da banda. Os temas não seriam muito diferentes sem eles, é certo. Mas seriam com certeza mais pobres. Eles foram, nessas músicas, aquela base de copo de cerveja que se dobra em quatro e que se coloca debaixo da perna duma mesa que abana um bocadinho. Não muda a mesa mas ajeita-a.

5. Que sensações esperam que as pessoas retirem da audição de “Hats & Chairs”?
Seríamos incapazes de dizer que esperamos que gostem muito, que comprem para oferecer aos amigos e familiares e que recomendem a torto e direito a toda a gente. Totalmente incapazes.

6. Se tivessem que escolher a faixa que melhor encarna o espírito do novo disco, qual escolheriam? Porquê, mais sucintamente?
É muito difícil de escolher uma faixa que seja representativa da totalidade do disco. O álbum, apesar de ser esteticamente coerente, é formalmente bastante variado. Mas se nos torcerem um braço para responder à pergunta, penso que a escolha recairia na faixa de abertura “Blue Voodoo” – tem a madeira, os pregos, a cola, e ainda a fazenda com que construímos o disco. E ainda conta com o Nuno Reis a abrilhantar o tema – a cereja no topo do chapéu.

7. Como vai ser o futuro próximo dos The Soaked Lamb?
Concertos e mais concertos, fazer quilómetros, carregar material, fazer som, carregar material, fazer mais quilómetros, dar entrevistas, fazer show-cases de norte a sul do país, e ainda dar alguns autógrafos a algumas crianças que ainda não fazem ideia do que estão a ouvir e que deviam era estar a ver um qualquer programa idiota na televisão. O resto, só perguntando à Maya.

Ouvir The Soaked Lamb no MySpace

capa de Hats & Chairs
“Hats & Chairs” – The Soaked Lamb (Panóplia, 2010)

género: blues
soakedlamb.blogspot.com
www.soakedlamb.com

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.