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Em directo com OqueStrada, sobre “Atlantic Beat – Mad´in Portugal”

Rui DinisRui Dinis

atlanticbeat

Os OqueStrada têm novo disco, chama-se “Atlantic Beat – Mad´in Portugal” e a trompa quis saber um pouco mais sobre o mesmo…

Os OqueStrada estão a comemorar 12 anos de “vadiagem”. Conseguem apontar uma coisa boa e uma outra menos boa trazida por tal demanda?
São 12 anos de muita paixão pela música e pelo público. Isso faz-nos ainda estar presentes e com vontade de dar o nosso melhor e isso é o melhor de tudo. É muito bom também saber que temos um público em Portugal que aprecia e conhece a nossa história musical, é fantástico também perceber que apesar de só termos gravado 2 discos em 12 anos o nosso trabalho é respeitado em Portugal e na Europa. A menos boa continua a ser tocarmos tão pouco no nosso próprio país apesar de termos muitos espectáculos no circuito internacional gostaríamos de nos apresentar mais ao público português.

Está aí o novo disco, “Atlantic Beat – Mad´in Portugal” (Sony Music, 2014), que batida atlântica é esta?
É uma batida romântica, com muita maresia e iodo. Que nos traz canções feitas para dançar e chorar um bocadinho, como costumo dizer: dançar faz bem, chorar também!
Esta batida foi apurada “TascaBeat: o sonho português” com instrumentos de fado tocados por quem vem de outros fados. Uma voz, uma viola, uma guitarra portuguesa, um baixo (a nossa contrabacia) aos quais juntámos posteriormente um acordeão (também ele ligado ao fado; inclusive há fados para acordeão) e um trompete o único que sai fora do naipe.
É uma batida acústica que nos traz uma maresia atlética mas um pouco mais emotiva que o nosso primeiro disco, que era mais festivo. Apesar das nossa canções não terem um formato tradicional são orelhudas, chamo-lhes canções progressivas pois até têm um refrão mas é preciso descobri-lo; foram feitas com o coração e o coração não tem fórmulas. “AtlanticBeat mad’in Portugal” fala-nos dos países do sul e de Portugal, como a entrada da Europa e não como porta dos fundos.

É para vocês claro, alguma evolução neste novo disco, quer em termos estéticos, quer em termos poéticos? Onde?
Apesar de bastante diferentes um do outro são ambos fábulas musicais. O “TascaBeat: o sonho português” sugeria um encontro entre quem vive no país, entre o norte e o sul, entre os centros e as periferias; o “AtlanticBeat mad’in Portugal” sugere uma alma atlântica ao encontro do mundo. Depois da tasca, a brisa atlântica. Na tasca os portugueses reencontram-se, em AtlanticBeat conversam o mundo. De tascabeateiros a atlanticbeateiros.
TascaBeat é alfaiate de bairro, o AtlanticBeat filigrana. TascaBeat é rio, é Tejo, AtlanticBeat é oceano, é atlântico. No TascaBeat fizemos a travessia entre as duas margens, no AtlanticBeat desviámos a rota para navegar em águas mais profundas. Mas ambos têm em comum a nossa batida poética.

oquestrada

Têm neste disco um tema inédito de António Variações. Porquê a escolha? É de alguma forma uma influência para OqueStrada?
O Variações foi uma influência enorme no país pela sua atitude na música e a sua ousadia. Há tempos que era um desejo nosso mas por um acaso este ano tivemos uma surpresa e a sua família convidou-nos para tocar um inédito para o novo disco. Claro que foi um orgulho imenso este convite. Ouvimos algumas das famosas maquetes que o Variações gravou. Nós escolhemos “Parei na Madrugada”, achámos que a sua escrita encaixava no puzzle de 10 canções do novo disco e foi a última a entrar. Este tema está no repertório do disco inserido ao que chamámos a Trilogia da Santíssima Trindade na qual juntámos 3 almas portuguesas e muito atlânticas: O Fernando Pessoa, do qual escolhemos musicar um poema dele O Comboio Descendente (do qual o Zeca Afonso tinha feito uma outra canção), a Amália Rodrigues também com um poema da sua autoria já que escrevia maravilhosamente e quisemos pôr em evidência esse seu talento com o poema Os Teus Olhos São Duas Fontes. Enquanto o TascaBeat foi abençoado por os Fadistas de Garra, AtlanticBeat é abençoado por esta Trindade.

Da tasca para o mundo, da rua para a entrega do prémios Nobel, que swing é esse que tanto cativa toda a gente, em Portugal e no estrangeiro, onde se têm apresentado com tanto sucesso?
Costumo dizer que o nosso sonho português começou numa pequena tasca de Lisboa e cresceu até ao Prémio Nobel da Paz. Creio que conquistámos um som muito próprio e essa originalidade que por vezes dificulta as coisas, pois o mercado não sabe em que prateleira colocar, também cativa por isso mesmo por ser um swing com uma marca muito própria que se aloja no coração de quem o ouve. Na Europa, os programadores de festivais quando ouviam o primeiro disco perguntavam-se “que som é este? Queremos vê-los ao vivo”. E assim actuámos em centenas de festivais, para um público que pouco conhece de Portugal para além do fado.

Que avaliação fazem das apresentações ao vivo do disco ocorridas na Casa da Música e no Tivoli?
Foram dois espectáculos divinais, para nós um regresso aos palcos portugueses. Foram também muito diferentes no norte fizemos a estreia do repertório, estávamos mais nervosos pois era a primeira vez que tocávamos os novos temas e também a nossa estreia na Casa da Música mas o público foi incrível, esteve connosco do princípio ao fim. Em Lisboa, foi um regresso ao Tivoli, a sala onde lançámos o primeiro álbum “TascaBeat o sonho português”. Estávamos em 2009 e voltar a este palco e tocar na nossa cidade também foi extraordinário. Para além disso, vimos o público a cantar connosco muitos dos novos temas, o que foi delicioso.

Depois da apresentação ao vivo do disco, como vai ser o futuro próximo dos OqueStrada?
O nosso disco terá lançamento internacional em breve. Este ano, iniciamos a nossa tourné internacional na Alemanha com 8 espectáculos e, para o ano, estão marcadas mais datas internacionais. [OUVIR]

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.