Há discos em que o peso da produção se sente desde o primeiro minuto – no sentido positivo. Não é sempre, nem é obrigatório, mas há géneros onde tal se pode tornar mais palpável que noutros. Pois bem, “Metaphortime” é um desses discos e impõe-se desde logo pelo trabalho de produção desenvolvido por Daniel Cardoso – o que também não é propriamente uma surpresa. Dito isto, e se o EP “Secret” (Edição de Autor, 2007) já tinha sido uma agradável surpresa, “Metaphortime” é o culminar de um processo de amadurecimento de cinco anos. Só assim a produção conseguiria chegar onde chegou. Grande disco.
O resto é história, com uma secção rítmica competente, uma guitarra dominadora e um jogo de vozes do tipo “a bela e o monstro“, com Pedro Silva a impor uma equilibrada guturalidade bem refreada pela limpidez vocal de Micaela Cardoso; a espaços, bem controlados, os teclados de Luís Teixeira conferem alguma da tez progressiva de “Metaphortime”. Sem pontos fracos, é enorme a consistência sentida ao longo do disco, mesmo quando o grupo transmontano experimenta o bouzouki de Yossi Sa’Aron (Orphaned Land) em “Alchemy Awake”, ou o violino de Hugo Santos e a flauta transversal de Tatiana Campos em “Feeling Superior Knowlegde”. Pedro Mendes (guitarra) e Daniel Cardoso (voz), em “White Linen”, são os restantes músicos convidados de “Metaphortime”. É uma ideia bem pensada, quer nos arranjos, estruturados ao milímetro, quer nas letras, sobre a vida e a morte; sobre o amor e o ódio; sobre a luz e a escuridão. Uma ideia feita de melodia e negritude, num death-metal a rasgar com competência caminhos doom e góticos.
Sem ser particularmente original, “Metaphortime” é um disco de superior qualidade; um dos melhores do metal nacional de 2009.
”Metaphortime” – Thee Orakle (Recital Records, 2009)
01 Knowing Anguish
02 All Way Down
03 Ghost Memories
04 The Great Masterpiece
05 Quimera Metamorphosis
06 Never-Ending Dilemma
07 White Linen
08 Alchemy Awake
09 Unexpectable Conformity
10 Feeling Superior Knowlegde
[…] “…com uma secção rítmica competente, uma guitarra dominadora e um jogo de vozes do tipo “a bela e o monstro“, com Pedro Silva a impor uma equilibrada guturalidade bem refreada pela limpidez vocal de Micaela Cardoso…” (a trompa) […]