Tentei lembrar-me…
Feitas as contas, no final de 2008, tentei lembrar-me do número de discos que me terão arrepiado nesse ano logo numa primeira audição. Nem sempre é um embate fácil, muito pelo contrário, mas aqui, bastaram poucos minutos para deixar cair os braços em sinal de rendição. Foram necessários poucos minutos para que, logo ali, me sentisse totalmente desarmado. Logo ali. Imóvel. Ainda arrepiado.
Noiserv é David Santos e David Santos é Noiserv; e este “One Hundred Miles from Thoughtlessness” é o seu brilhante álbum de estreia. Não que “56010-92”, o EP lançado gratuitamente pela Merzbau em 2005, nos tivesse mostrado outro Noiserv, nada disso, mas porque este ultrapassa tudo o que poderíamos ter imaginado para um futuro desenvolvimento da arte de Noiserv. É diferente, mais evoluído, acima tudo é muito melhor, fazendo a perfeita síntese entre o passado e o presente de Noiserv. Apresentando o mesmo Noiserv de sempre, este deixa-nos ainda mais inquietos, quando olhamos, ou tentamos olhar, pela porta que deixa antever o futuro de Noiserv. É uma imagem clara, uma imagem de luz, uma imagem francamente animadora.
Mas porquê? Por tudo e mais alguma coisa. Porque “One Hundred Miles from Thoughtlessness” é um disco puro, simples, directo, pessoal, um disco inquietante. Faz-nos pensar. Porque que se vê – e sente – a olho nu todo o esforço depositado na sua produção. Um esforço que traz resultados imediatos; automáticos. Porque se ouve o cuidado depositado nas pequenas coisas. Nas pequenas e nas grandes, como a guitarra, os vários sintetizadores, metalofones, sinos, caixas de música, muitas vozes, brinquedos, omichord, melódica, acordeão e megafone entre muitas outras coisas. É esta subtileza nos arranjos que com toda a sua simplicidade, dá uma profundidade muito especial a cada canção de “One Hundred Miles from Thoughtlessness”. São estas pequenas coisas que fazem deste disco uma maravilhosa caixinha de música, motivo de um prazer sem fim. Absolutamente. Se “Welcome Party” e “Consolation Prize” iniciam com beleza o álbum, “Bullets on Parade” acaba com o resto. Literalmente. Sempre com aquela voz dolente e bem marcada de David Santos. Excelente.
É um disco sincero, íntimo, marcado por pequenas histórias; umas reais, outras inventadas. É um disco de sentimentos; de alegria; de tristeza; os sentimentos das pessoas. Grande disco.

capa de One Hundred Miles from Thoughtlessness
“One Hundred Miles from Thoughtlessness” – Noiserv (Edição de Autor, 2008)

01 Welcome party
02 Consolation prize
03 Melody pops
04 Guarantee
05 Tokyo girl
06 307d (Mercedes Benz)
07 Bullets on parade
08 Download
09 Good son
10 For the ones who left me
11 Bontempi

tipo Alternativo
ouvir www.myspace.com/noiserv
sítio www.noiserv.net
sítio www.youtube.com/noiserv

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

2 thoughts on “OLHARES|”One Hundred Miles from Thoughtlessness” – Noiserv”
  1. O que eu me arrependo de não ter comprado essa obra de arte quando a vi a 10€ na Media Markt de Leiria -.-

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