Desconcertante, afirmava há dias por estas bandas sobre a estreia de Peace Revolution, a nova edição da novel Chiado Records. É um registo desconcertante, cravado de sentimentos dispersos disparados em direcções diversas…no fim, feitas as contas, encontram-se todos, juntos, aos saltos numa pista qualquer…desconcertante, tampouco catalogável; a electrónica alimenta-o, isso sabemos:“O conceito Peace Revolution está entre o novo e o antigo; entre o acústico e o eléctrico; entre o homem e a máquina. As possibilidades são infinitas…”; dizem no seu press-release e muito bem, como que respondendo desde logo a muitas das dúvidas suscitadas numa primeira audição de “Peace Revolution”. Foi isso que senti; devo dizer, no entanto, que os Peace Revolution são para mim até à edição deste disco uma novidade; a Demo de 2005 passou-me completamente ao lado. Sem grande rigor estético, sem barreiras, em “Peace Revolution” a electrónica domina a 100%, num apelo selvagem à dança, cruza ritmos, influências e géneros de vária ordem… é rock, é funk, é pop, é reggae, é tudo junto numa amálgama de fundo étnico que a passos se vai recriando…electronicamente.
Paz e revolução, dentro ou fora, branco ou preto, a estética de Peace Revolution converge numa dualidade entre o ser e o seu contrário; entre uma paz que se auto-questiona: o que é que isso interessa? Numa hora estamos aqui na seguinte estamos além, mantendo-se apenas uma energia muito própria e positiva que brota por quase todo o disco. Resta alguma excesso; pessoalmente, duvido que “Peace Revolution” necessitasse das 17 músicas que o compõem, acredito piamente que com uma dúzia delas fazíamos a mesma festa – e com menor cansaço…em bom rigor e atendendo a toda a diversidade estética do projecto, alguns dos temas parecem mesmo algo desenquadrados da ideia global que o trio parece querer transmitir (Carlos Bastos – programações, produção, baixo, guitarras, sintetizadores, sitar, alaúde e letras, Tito Ribeiro – vozes, programação, letras e produção e Fred – bateria).
Em resumo, gostaste ou não? passe algum pormenor electrónico mais trivial, gostei, em alguns momentos, gostei bastante. O disco possui na maior parte dos temas que o compõe uma vibração contagiante, sendo o início do disco disso revelador. Bastante revelador. Mas vale mesmo a pena? acredito que sim; não pensem encontrar algo de verdadeiramente original no seu todo, pensem antes encontrar um conjunto de temas simples, muito bem estruturadas, bem interpretados e capazes de nos agarrar do princípio ao fim; “J w d (Just wanna dance)” é de uma vibração absolutamente pegajosa…
Descomprometido quanto baste, esta é uma experiência feliz, por vezes até arrebatadora, um pouco extensa é verdade, mas cativante e mesmo que aqui e ali o disco se desequilibre, “Peace Revolution” vale bem a experiência…em paz!

Ouvir os três temas da promo de “Peace Revolution”, quiçá os melhores…. Por AQUI é possível ouvir excertos dos primeiros cinco temas do disco.


“Peace Revolution” – Peace Revolution (2006/Chiado Records)

01 J w d (Just wanna dance)
02 Serpent words
03 Leva o meu amor
04 Ket
05 Gipsy feel
06 Crazy world (Stop)
07 Asteroid (Feels like)
08 C est pour toi
09 Peace revolution
10 Incense
11 Analog soul
12 My God (What if)
13 A song about freedom
14 Fire dancer
15 Small talk stinks
16 Mais um dia uma canção
17 U man fly

Electrónica/Alternativo
www.peacerevolution.net

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.