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VINIL|"Cães aos Círculos" – Alexandre Soares & Jorge Coelho

Rui DinisRui Dinis
É um disco lixado, este; é mais uma sensação estranha, esta, sobre um disco que há já muito se conhecia mas que só agora se consumiu na sua versão em vinil. E talvez seja uma sensação estranha exactamente por isso, por ser como é, pela sensação diferente que transmite. Disponibilizado gratuitamente em mp3 no momento do seu lançamento, a sensações hoje é completamente diferente. Na verdade, não sei se terá a ver com o facto de ser em vinil, se terá a ver apenas com uma predisposição natural que me assaltou na noite passada; o facto é que esta é uma sensação mesmo estranha. Uma sensação de vazio, de querer ouvir e não ter, de querer respirar e o ar rarear. Naturalmente, temos bom remédio – dirão alguns, levantamos a agulha e trocamos o A pelo B vezes sem conta. Foi isso que aconteceu. “Cães aos Círculos” é um disco viciante. A introdução está feita.
“Cães aos Círculos” é um single em vinil – o tal 7” – que tem como criativos Alexandre Soares (Três Tristes Tigres, GNR, Zero, Um Projecto Global) e Jorge Coelho (Cosmic City Blues, ZEN, Mesa e Tenaz); foi editado em 2006 pela Bor Land sendo composto por 4 temas – 3 no lado A e 1 no lado B.
O motivo de tanta estranheza – ou puro desejo, não é mais do que o resultado final de uma longa improvisação decorrida no AMP Studios de Paulo Miranda. Longa mesmo, “de 2 ou 3 horas” segundo diz Jorge Coelho no sítio da dupla. E disso não há mesmo dúvida, da improvisação que lhe dá vida, já que tamanha sensação só existe por estarmos a falar de pequenos excertos; é terrível, acaba tudo demasiado depressa. Acaba depressa o desperto vaguaer daquelas duas guitarras em confronto, armadas de amplificadores em riste, prontas para um rápido deambular imaginário. Sim, porque são apenas duas guitarras. Duas guitarras, imaginação e muito prazer, uma fome de partir para lá do consensual, do habitual, para lá da normalidade – seja lá o que isso for. É pura electricidade, sem complexidades – é verdade; não fugindo de uma matriz que se reconhece facilmente no rock, este é um diálogo que se mantém com fulgor do princípio ao fim – pena mesmo é ser tão curto. Sempre experimentando, da liberdade mais roqueira e eléctrica do lado A, viaja-se com sentido à beleza atmosférica e mais vagueante do lado B – com um cheirinho desta no “CAC 3”. O que fica destes fragmentos é toda uma densidade circular que se pressente a todo o momento – num ou noutro lado; no diálogo das guitarras, no ambiental presente, nos toques graves, é toda esta electricidade – curta e rápida – que nos faz repetir incessantemente o tal movimento; o de levantar a agulha e trocar o A pelo B. Para que se registe, o “CAC 4” é realmente viciante.
Enfim, tão simples e de tanto prazer. Parece brincadeira, este movimento circular; do disco, dos cães, do sentido dos olhos. Fiquei lixado, por este sabor a pouco.

som Ouvir um boa parte de “Cães aos Círculos”

rodela do Maxi Paramessalina
“Cães aos Círculos” – Alexandre Soares & Jorge Coelho (Bor Land, 2006)

Lado A
01 CAC1
02 CAC2
03 CAC3

Lado B
04 CAC4

tipo Experimental
sítio www.reporterestrabico.com
sítio www.caesaoscirculos.co

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.