CONCERTOSPáscoa na Malaposta

Na madrugada que tornou o seu dia mais curto, o Centro Cultural Malaposta, Olival Basto, recebeu duas das mais interessantes bandas lisboetas de cariz alternativo: Primeiro, os Sutzu, depois, para terminar a noite e iniciar o dia pascal, os New Connection. Numa casa bem composta, as bandas entregaram-se positivamente ao espectáculo:

Sutzu

(Foto: Rui Dinis)

Formados em 2003, os lisboetas Sutzu são compostos por Tânia Costa na voz, Carlos Mota na guitarra e Rodolfo Gil no sampler e programações.
Ontem, como sempre, tivemos máquinas, aquelas que criam todo o cenário dos Sutzu, há a guitarra, ontem, algumas vezes abafada pelo tal cenário e temos uma voz, alta (com o som de ontem às vezes muito alta), misteriosa, íntima, que basicamente constitui a essência da coisa; o universo Sutzu. Universo maquinal (por vezes demasiado maquinal) em contrapeso à orgânica da voz, o combústível que faz rolar a máquina, numa excelente presença em palco. Do universo feito de um rock alternativo, às ordens da poderosa electrónica, resultam canções que nos enviam para paisagens longínquas, mais ou menos por onde ocorrem os sonhos, onde se cria posteriomente um ambiente denso, escuro como o breu. Interessante. É esse o universo dos Sutzu, um cenário de tez electrónica que numa cadência robusta se deixa envolver pela voz quente, às vezes etérea de Tânia Costa. Destaque para “Lost Way” e para o avassalador “Strong”.
O som não ajudou muito, mas foi um bom concerto, de uma banda ainda à procura do seu espaço.

New Connection

(Foto: Rui Dinis)

A noite já ia longa, o relógio já havia cavalgado até às 02h00 quando o quinteto lisboeta New Connection ocupou o palco do Centro Cultural Malaposta.
Nas poses habituais bem arty de Sandra Cachaço, vocalista da banda, o concerto dos New Connection desdobrou-se inicialmente numa imaginária primeira parte onde as sonoridade mais serenas, internamente intensas, de toada bristoliana como que a invocar as primeiras influências da banda, marcaram fortemente presença. Na segunda, sempre imaginando, a banda arranca para uma fase mais violenta, exteriormente mais intensa, rumando para áreas por onde os novos temas da banda parecem agora baloiçar-se sem receio; área esta onde se vai acentuando, em contínuo, a presença intermitente de alguma electrónica. E aí, o concerto ganha força, energia, no deambular da voz, no despique das guitarras, no rufar cada vez mais veloz da bateria e no ritmo acentuado do baixo, o som dos New Connection enche definitivamente a sala.
Mas… o que se ouviu? do trip-hop ao rock mais alternativo, passando pelo pop e acabando no punk, o som dos New Connection parece cada vez mais um carrocel de emoções que nos deixa a cada música que finda ansiosos por ouvir a que se segue. Ansiedade. O que muitas vezes é uma “arma de arremesso”, o ecletismo na forma como a banda aborda os diferentes géneros musicais, traz outras vezes o espectro de alguma confusão. Ainda que parecendo hoje quase uma característica intrínseca da banda, ao mesmo tempo, esta parece estar em pleno momento de recentração estética (até por necessidade), de forma a poder focar-se 100% num objectivo (ou talvez não). Uma questão de conceito ou não-conceito (este último também ele interessante).
Mas…o que ficou? uma banda mais madura e mais consistente na forma como aborda os temas; um concerto cheio, de emoções e energias diversas, cenários diferentes e ambientes sonoros em constante mutação. Sempre em evolução.

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.