CONCERTOS“Transform Zone 2005”

3 de Junho, Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense, Alverca, obviamente.
Assim é difícil, se ninguém começar será sempre igual, sempre assim, difícil de aguentar. O quê?
É verdade que às 22h00, hora marcada para o início dos espectáculos, o panorama na SFRA era desolador, mas também é verdade que quando os Spaceboys entraram em palco, já para lá das 03h00 (e foram os terceiros a avançar), o panorama era igualmente desolador. Ganham os primeiros, sofrem os últimos, é fatal como o destino. Pior, sofre o público que chega a horas para ver um espectáculo e não tem paciência para se firmar até ao fim, tanta a demora para começar e recomeçar o espectáculo.
Assim é difícil, se ninguém começar a cumprir as regras (leia-se principalmente horários), será sempre assim, muito difícil de aturar, por muito que se goste…
Infelizmente, mesmo a 3€ a entrada para os concertos, já mesmo muito bem apertadinhos teríamos um terço da sala ocupada.
Mas vamos à música:

>> Quinteto Tati

Foto: Rui Dinis

Eu gosto de Quinteto Tati, muito, de J.P. Simões e companhia e até, geralmente, daquela forma de ser e estar. Claro, a sala, ontem, foi grande de mais.
Ontem e isso foi para mim um facto (não sei se já aborrecido pela hora), na forma, nada de superior e verdadeiramente cativante ocorreu enquanto discorriam naturalmente o belíssimo álbum “Exílio” e as conhecidas homenagens a Chico Buarque (tema inserido no disco “3 Pistas”) e Scott Walker (tema inserido no disco tributo da Transformadores ao artista). Na sentida diversidade estética e competência técnica do manejo instrumental reconhecida a este quinteto de seis, lá foram aparecendo os incontornáveis “Valsa Quase Antidepressiva”, “Rumba dos Inadaptados” , “Suor e Fantasia”, etc., etc., etc., sempre naquele jeito curioso de pop-borga lusitano que emana de J.P., sempre naquela pose de quem goza com tudo e com todos, principalmente com aqueles que esperaram mais de uma hora para o ouvir. Às vezes parecia estar aborrecido por sermos poucos (percebo…mais ou menos) e por estarmos ali. Desculpe…
Competente como sempre mas sem o tal “golpe de asa”…

>> Rádio Macau

Foto: Rui Dinis

Xana, palavras para quê…só por isso vale o espectáculo. A sala essa, agora um pouco maior, continuava ainda a ser grande.
Ontem e mais uma vez, se provou como bandas com mais de duas décadas de existência se conseguem recriar e ir adaptando às novas realidades sonoras com uma classe quase arrepiante, sem com isso perder o rumo estético. Isto não é novidade, queria só repeti-lo. Mesmo ouvindo canções como “Amanhã longe demais”, “O Anzol”, “O Elevador da Glória”, “Cidade Fantasma” , etc., estas soam intemporais, intocáveis na sua contemporaneidade. Naturalmente há casos assim, bandas de grandes músicos, ponto final.
Escusado será de dizer que foi o momento alto da noite, momento onde a comunidade trintona alverquense pode finalmente explodir, e já “bem acompanhada”, pôde gritar bem alto os refrões dessas já inesquecíveis canções da história da música moderna portuguesa.
Depois, e também naturalmente, os concertos de Rádio Macau trazem sempre um bónus (para alguns e muitos, uma fava), um Flak, sempre pronto a ocupar o meio da sala com os seus solos, não raras vezes vindos sabe-se lá donde. É uma tentação…repetida.
No final, houve ainda espaço para o belíssimo “Acordar”. “Cidade Fantasma” fecharia noite como encore. Sem espinhas, não há dúvidas: houve festa!

>> Spaceboys

Foto: Rui Dinis

Tenho pena. Tenho muita pena que o concerto de Spaceboys tenha começado tão tarde. Primeiro, porque muita da audiência já se tinha “posto a mexer” e depois, e isso sim mais importante, porque foi um bom concerto, a merecer definitivamente uma sala mais composta (no mínimo, igual à dos concertos anteriores). Éramos poucos, ainda assim, foi grande a vibração no ar.
A viagem intergaláctica e alucinante que Francisco Rebelo, João Gomes e Tiago Santos nos proporcionaram, feita com toda aquela batida nascida de um experimentalismo electrónico bem acompanhado pelo baixo e guitarra e por uma excelente projecção de slides, fez com que finalmente os poucos e resistentes esqueletos naquela sala se baloiçassem infinitamente num ritmo compassado, espacial, lunar… Obviamente o ramalhete não ficaria completo se não referisse a voz, a grande presença de Kalaf na animação vocal do recinto via mic. Grande Kalaf.
Ah!, não poderia esquecer que ontem, também os Spaceboys trouxeram um bónus (para alguns e muitos, uma fava), um Flak. Sim é verdade, ele esteve no palco.
Grande viagem.

>> O Regresso

Gostava de ouvir mais e de me aguentar um pouco mais. Gostava mesmo de ouvir Cindy Kat, mas a noite já ia realmente muito longa e como a idade não perdoa…ao fim de um dia tinha passado mais um ano…

transformadores.blogspot.com

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.