Nunca me sinto muito bem a olhar com os ouvidos para estas peças. Muito à vontade. São peças que vão muito para lá daquilo que os meus olhos conseguem ouvir, muito para lá daquilo que os meus sentidos conseguem tactear. Essa é a beleza, o que ouvimos?
Bio
Nasce em 1999 para compor a banda sonora de uma curta metragem que nunca a chegou a ser. “The Distant Images of the Abstract Light” sim, editada em 1999 viu novamente em 2004 a luz do dia; sim, ao fim de 11 minutos cheira-se a luz do dia; antes foi o vento, os zunzuns da noite, uma calmaria até assustadora. Há um encadeamento, uma estrutura narrativa que quase se consegue sentir (facilmente) ao longo da peça (a certeza não é aqui de todo sustentável). Aos 11 minutos, o dia desperta, acorda-se e há o trânsito, as pessoas que falam, a vida do dia a dia. Soturna, mas bela. Bio é Samuel Jerónimo, sempre e bem, entre a hibridez do clássico e o experimental. O melhor registo do disco.
The Beatiful Schizophonic
É como uma corrente, de ondas, vagas distantes, corrente sanguínea que se vai aproximando e enrolando na areia da praia cada vez mais envolvente. Ameaçadora. Cada vez mais fechada. “Her heart is a room full of drones” não é um quarto é uma caixa, um sólido geométrico onde encosto o ouvido e ooommmmm até parar. É isso…depois vem a alma, mais perto, mais sonora, arrebatadora como um cilindro que se prepara para avançar sobre nós, enquanto ao longe, a suave e dissipada música nos acompanha num avassalador e contínuo fim. Assim continua a sua caminhada. “Soul scanner” está mais perto do coração, bate mais forte, dá cor à alma…até que se esvai…de repente. A rapariga? não vi, estava muito longe…em paz. The Beatiful Schizophonic é mais conceptual, é um pouco menos sedutor, o minimalismo das suas linhas electrónicas torna-o menos complexo, menos inovador, um pouco mais repetitivo. Algo mais.
The Beatiful Schizophonic é Jorge Mantas.
Luis Van Seixas masterizou.