Há na música dos Hipnótica, a cada novo disco, algo de novo e até surpreendente a acrescentar ao anterior. Desde logo, porque ao invés de manterem  uma certa linha de orientação, quase imutável, preferem a cada novo disco mostrar um pouco mais de Hipnótica. Um acrescento certamente marcado pela vida, por uma experiência cada vez maior, afinal, sempre são 17 anos de carreira; exacto, 17. Com “Twelve-Wired Bird of Paradise”, não só se confirma esta ideia como é possível ouvir uns Hipnótica ir mais fundo do que nunca, especialmente porque vivem neste uma pequena reconversão do seu modelo estético. Sem nunca se perder o efeito Hipnótica, o último álbum do grupo lisboeta traz muitas e boas novidades.
“Twelve-Wired Bird of Paradise” é um disco feito para o dia todo; agarra a luz do dia e vive-a, incessantemente, preparando com energia – e às vezes alguma melancolia – a noite que há-de chegar. Abarca as manhãs com frescura, vivendo a luz do dia com uma felicidade até aqui pouco vista na música dos Hipnótica. Com melodias que nos deixam vidrados, tal a intensidade que transmitem, estas fazem a ligação entre pontos de diferentes universos musicais; uma ligação feita com um enorme bom gosto. São apartes folk, momentos eléctricos, momentos os quais a electrónica adicional condimenta até chegar à cativante sonoridade de “Twelve-Wired Bird of Paradise”. Uma sonoridade que nos envolve até à chegada da noite, alertando-nos para o movimento dos corpos, para a vontade feita necessidade em fechar os olhos e imaginar a luz fugidia da pista de dança. A isto, junte-se a harmonia e o carisma da voz de João Branco Kyron, a peça que completa um puzzle sonoro capaz de nos deixar ansiosos de emoção; perto do eternamente. Isto, naquele movimento onde, abraçados, o acústico e o eléctrico se derretem enamorados.
O último álbum dos Hipnótica é um disco de uma luz muito própria, a luz que ofusca a negritude de outros tempos e que elabora a esperança num futuro diferente. Os Hipnótica assumiram isso e ofereceram-nos um conjunto de 10 canções magicamente pop. Não uma pop qualquer, mas uma pop que vive bem consigo mesma, de linhas simples e originalmente cristalizada numa abordagem feita de ambientes de cor e luz; muita luz. Numa espécie de marcha indie contra o cinzentismo dos dias.
Está de parabéns, o grupo de João Branco Kyron (voz, sintetizadores, programações e percussão), Bernard Sushi (vozes, guitarra acústica, guitarra eléctrica, piano e sintetizadores), JP Daniel (guitarra acústica, guitarra eléctrica e ukelele), Sergue (baixo e sintetizadores) e António Watts (percussão, bateria e steel drums).

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capa de Twelve-Wired Bird of Paradise
“Twelve-Wired Bird of Paradise” – Hipnótica (Metrodiscos, iPlay, 2010)

01 Playground
02 High Grass
03 Black Glove
04 Its Ok To Get Lost
05 Glitter
06 Candy Mountain
07 Sun Palace
08 Wild Side
09 Fur
10 Bang Bang Steeldrums

| ALTERNATIVA |

www.hipnotica.net

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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