Com o disco de estreia nos escaparates, a trompa aplicou a clássica chapa 7 aos Lacraus. Guel Lacrau passou-nos a mensagem:

1. Definam Os Lacraus com duas palavras; um substantivo e o seu adjectivo.
Roque Grande.

2. Os Lacraus já tocam juntos há muito tempo. Que astros se alinharam para só agora sair o disco de estreia?
Depois de em 2006 com a compilação “Cinco subsídios para o panque-roque do Senhor” e em 2007 numas gravações para a Antena 3 a convite do Henrique Amaro, que se concretizaram na edição “A FlorCaveira em Frequência Modulada”, os Lacraus hibernaram por uns tempos. Isto porque a partir daí avançaram os discos a solo de alguns artistas da FlorCaveira, em particular o IV e V do Tiago Cavaco (na altura, em Portugal, como Guillul). Paralelamente também o Samuel Úria editou o “Nem lhe tocava”, o que a par das nossas edições mais caseiras nos consumia em termos de disponibilidade.
Este período de bonita poesia também nos tornou saudosistas com o que havíamos feito no passado, um desejo enorme de voltar a fazer discos suados, com o barulho que nos está no sangue. O Tiago começou a escrever algumas canções que lhe faziam sentido serem tocadas pelos Lacraus e que rapidamente se concretizaram no entusiasmo deste regresso. “Os Lacraus encaram o lobo” também mostra um pouco isso, essa vontade e entrega brutal de trazer um rock directo sem grandes explicações.

3. A mensagem é importante para Os Lacraus? O que pretendem transmitir?
A mensagem será certamente importante na medida do que somos e do que acreditamos, mas não existindo separada de nós como uma espécie de manifesto. Os Lacraus não existem para manifestos nem para movimentos sebastianistas dos novos tempos. Temos costelas de velhos do Restelo, mas não somos braços armados hasteando a verdade estética das coisas. Gostamos da ideia de o disco trazer algo de novo a quem o ouve, mais no sentido da esperança no meio do apocalipse que no som tão urgente quanto previsível. Somos gente de fé e essa é uma marca indissociável do disco, tal como de nós próprios.

4. O disco foi produzido por Armando Teixeira. Acham que é clara a sua influência no resultado final? Onde?
A produção do Armando Teixeira foi uma agradável surpresa do meio da criação deste álbum. Falo em surpresa, pois até nós não sabíamos bem onde isto ia parar, dada a amplitude do que o Armando já fez na sua carreira e do registo natural dos discos que temos feito ao longo dos anos. Partimos para o disco com a ideia de Wall of Sound do Phil Spector mas com rock imediato à mistura (os Clash e o Springsteen são incontornáveis na inspiração deste álbum), elevando o som a um nível em que a bateria e o baixo eram forças motrizes suficientes para o que lhes seguiria. Lembro-me de ouvir as primeiras gravações da bateria e pensar “as canções estão feitas!”. Do brilho quase irónico à simplicidade dos instrumentos, tudo favorece as canções. Mais que instrumentos virtuosos (até por incapacidade dos donos), o Armando soube favorecer as canções e este é um disco de canções. O som é imediato, a entrega é sentida e estamos muito gratos ao Armando pelo que ele fez neste disco.

5. Que sensações esperam que as pessoas retirem da audição do vosso disco? Ou nem pensam muito no público?
Sim, claro que pensamos. Quando estamos a criar ou a gravar nem tanto, mas quando o disco fica pronto é inevitável ter expectativas que achamos serem legítimas, sem fazer do seu resultado aquilo que nos move. As sensações que esperamos que as pessoas retirem da audição do nosso disco são aquelas que se atravessam à nossa frente quando o tocamos. Esse é o mérito de quem num disco consegue passar o que se está ali a acontecer, trazendo o ouvinte para as canções. Independentemente da condição de cada um diria que são 3 as sensações que se apoderam de quem nos ouve: suor, magreza, surdez.

6. Apontem duas razões para ouvir – e quiçá comprar – o vosso novo disco?
Primeira. Este disco trata de esperança e, nos tempos que correm, que melhor motivo haveria para ouvir um disco?
Segunda. A primeira, em repeat.

7. Como vão ser os próximos meses d’Os Lacraus?
Os próximos meses esperamos serem atarefados com concertos, apesar de sabermos à partida que os tempos são outros e que é muito mais difícil tocar que no passado. Mas isso também só nos anima para o que temos de dar, no esforço e trabalho que se apresentam no futuro. Para já, em Janeiro esperamos ter o concerto de lançamento do disco, algo que só agora acontece porque não queríamos ter apenas mais um concerto ou mais uma festa de lançamento, mas sim uma coisa identitária. Esperemos que corra bem e que as pessoas se divirtam.

Ouvir Os Lacraus

foto os lacraus
Os Lacraus – “Os Lacraus Encaram o Lobo” (FlorCaveira, 2011)

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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.