São do Porto e chamam-se The Happy Mothers. Projecto liderado por Pedro Adriano Carlos (voz e guitarra) e Miguel Martins (guitarra e coros), os The Happy Mothers são ainda formados por Pedro Santos (baixo) e André Mariano (bateria). A trompa aplicou-lhes a chapa7.

Porquê The Happy Mothers? Qual a história por detrás do vosso nome?

Pedro – A história é muito simples, e acaba por ser irrelevante. Precisávamos de um nome que fizesse sentido e que soasse bem.
Mas a escolha em si fez sentido porque o nome está carregado de ironia evidentemente, é quase Freudiano, o próprio nome levanta a questão da sexualidade, o comportamento da sociedade em relação à sexualidade, a opressão aos instintos básicos do ser humano, que leva a frustrações pessoais. Somos instruídos a pensar no nosso futuro só numa direcção, para termos uma sensação de segurança, mas no fundo, isso só demonstra medo, porque na maior parte das vezes não é esse futuro que a pessoa verdadeiramente quer para si. Os The Happy Mothers defendem precisamente o contrário. Deixa o teu corpo e mente seguirem o seu curso natural, aceitando quem és, assim ficas livre espiritualmente e tens uma vida realmente boa, porque estás a ser verdadeiro contigo mesmo, em tudo o que fazes.

Miguel – Desde o primeiro momento que o Pedro sugeriu esse nome (por sugestão do Pai dele) que interpretei o conceito “The Happy Mothers” como uma metáfora e um paralelismo entre ser “Mãe” e ser artista – no nosso caso em concreto, um artista é Mãe (e Pai) da sua obra, da sua criação, e é esse o nosso papel enquanto artistas. Sempre pensei que ser Pai ou Mãe, e criar e educar um filho é um dos maiores actos artísticos que o Homem realiza. A partir do momento que o artista cria a sua obra, que a faz nascer, criam-se também laços, bem como uma preocupação e uma responsabilidade que o artista adquire relativamente à sua obra, a qual dura o resto da sua vida. Eu sempre achei que aquilo que eu e o Pedro fazemos nos The Happy Mothers (e que acontece na maioria das parcerias artísticas) é, em parte, semelhante a isso – ao criarmos e assinarmos algo em conjunto, ao termos a coragem necessária para lançar isso ao mundo, sabendo à partida de todo o criticismo que pode ser exercido por “estranhos” sobre a nossa obra, bem como em tudo aquilo em que ela se pode vir a tornar, é algo semelhante a ter e criar um filho. Um artista nunca terá controlo total sobre o rumo que a obra tomará. É um acto de coragem, e acima de tudo, de fé, em algo positivo segundo os nossos próprios princípios. Obviamente que tudo isto é encarado com um pouco de humor e com bastante, se não totalmente, niilismo.

Indiquem 3 palavras que vos definam como projecto musical?

Liberdade, rock n’ roll e decadência.

Existem nomes ou correntes musicais que sejam para vocês importantes influências? Quais?

Miguel – Existe uma lista enorme de correntes musicais e artísticas que nos influenciaram. Jim Morrison, a meu ver o primeiro Punk da história da música, é uma grande influência para nós, não só através da sua atitude livre, niilista e poética que teve perante a vida e o Rock n’ Roll, mas também através do pensamento espiritual que ele demonstrou ter. É de notar que o próprio Morrison tinha algumas influências que partilhamos – a ideia do nome “The Doors” surgiu devido ao livro “The Doors Of Perception” de Aldous Huxley, o qual é uma descrição detalhada das experiências que o autor passou sob os efeitos de Mescalina, e a forma como este acreditava que o uso de certas drogas podem influenciar positivamente o desenvolvimento da humanidade – crença a qual partilhamos e pretendemos promover através da nossa arte. Huxley é sem dúvida uma influência, não só nesse sentido, mas também no pensamento Orwelliano. Tudo o que é ou foi Rock n’ Roll, é para nós uma influência. Estamos sempre a dizer um ao outro que o que era preciso era uma nova geração Woodstock de 69. Tanto nos influenciam os “The Doors” como Buckowsky, tanto nos influencia o Rock n’ Roll como os Beat Poets, tanto nos influencia o exercício de liberdade artística e criativa que foi o “Sgt. Peppers” dos The Beatles, como o filme “Crash” de David Cronnenberg. Deixar de ter medo da vida, do acaso, deixar de se procurar o controlo e o poder, e apenas nos deixarmos levar pelo prazer e pelo instinto.. tudo o que tiver essa atitude mexe connosco, e com isso nos identificamos. A lista, as ideias, as influências são assunto para páginas e páginas de entrevista, para horas e horas de conversa…

Pedro – Exatamente por ser assunto para várias horas de conversa, tenho que mencionar uma influência que foi igualmente importante para nós, Marilyn Manson. Desde o início, inspirou-nos musicalmente mas, acima de tudo, inspira-nos principalment hoje, pelo poder da voz, das palavras, do sentimento positivo que ele transmite mesmo que fale de Morte. Um artista que combina Rock com correntes artísticas como a era “Dada”, considerada na altura uma era da “decadência da arte”, tem tudo a ver connosco. Consideramos, hoje, que The Happy Mothers não é só música rock, é também um leque de criações artísticas que se manifestam de todas as formas, quando sentimos necessidade de criar. Pode ser manifestada em poesia, pintura… Estamos livres enquanto pessoas, portanto sentimo-nos livres para nos expressarmos em qualquer forma de arte. Marilyn Manson é uma influência tão grande para nós, como é David Bowie, e David Bowie para Marilyn Manson. As referências existem, e são elas que fazem com que a originalidade permaneça.

Para quem não vos conhece, que música aconselhariam a audição em primeiro lugar? Porquê?

Miguel – Se estás a falar de uma música dos The Happy Mothers, tudo depende daquilo que procurares ouvir nesse momento. Para mim a música sempre me serviu como refúgio, então o que sugiro é o seguinte: a “So Sick” para quando estiveres concentrado, e curioso, com vontade de ouvir uma nova música Rock que possas gostar, mas que para além disso te possa confortar e fazer sentir melhor contigo próprio. A “Bang Bang Bang” se estiveres a ser invadido por um forte desejo carnal; e a “Holy Fuck” se estiveres já alcoolizado, desinibido ou bastante excitado por qualquer outra razão, ou caso estejas a lidar com um qualquer acto passado do qual, infelizmente, foste educado a sentires sentimentos de remorsos ou arrependimento.

Se esta pergunta se referir à musica em geral (e se não se referir, aqui ficam os “conselhos”), obviamente que não se pode tentar entender o Rock n’ Roll sem se conhecer a discografia dos The Beatles e o modo como eles criaram os moldes para o que é a música pop/rock; sem se conhecer e conseguir reconhecer a forma como os The Rolling Stones quebraram barreiras sonoras e temáticas em temas como “I Can’t Get No (Satisfaction)” e “Sympathy For The Devil”; sem se ouvir o álbum “Fun House” dos The Stooges (com Iggy Pop) e se perceber quais as raízes do Punk e de onde vem a ideia de “Raw Power”; sem se ouvir “Never Mind The Bollocks” dos The Sex Pistols e se entender qual foi o auge, bem como o início do movimento Punk; e a lista continua… para quem pouco conhece, tentem olhar para a história da arte e da música e fazer um paralelo entre a história da cultura popular e da própria humanidade. Tentem notar as quebras nas correntes artísticas, com o que elas se relacionam.

Que sensações esperam que as pessoas retirem da audição da vossa música?

Miguel – Espero mesmo, e é muito importante para mim e para nós, que todos se sintam mais livres e mais capazes de se deixarem levar por aquilo que são, pelos instintos que sentem, e por todos os desejos e vontades que têm. Espero também que cultive a curiosidade e a vontade de se crescer, evoluir, aprender mais, julgar menos os outros, e que sirva para que todos se apercebam que não existe nem uma única razão para se viver em medo e presos na sua própria mente.

Pedro – Inspiração e o sentimento de amor próprio, sentir que a luta está apenas nas nossas mentes, e que temos que fazer algo quanto a isso. Ouçam The Happy Mothers enquanto fazem amor. Como o Jimmy Page diz, “um riff de rock tem que ser sensual”, e eu sempre associei a música que me excita ao sexo, combinam na perfeição. Têm uma sensualidade…idêntica!

A mensagem é importante para vocês? O que esperam transmitir com as vossas palavras/músicas?

Pedro – Se não há mensagem, a música não existe. A música é universal precisamente porque transmite algo real a quem a ouve, mesmo não entendendo a língua. Nós sentimos que somos a voz que o mundo precisa hoje, sentimos que o Homem está num momento em que o excesso de informação e formação funcionam mais como uma lavagem ao cérebro do que apenas como um processo de evolução e aprendizagem natural ou instinctiva, e que não deixa as pessoas verem quem elas são, o que querem, o que a vida significa, etc. Nós transmitimos verdade na nossa música, não temos receio de não sermos aceites enquanto indivíduos, e é isso que pretendemos passar às pessoas. Eu tenho letras para o novo álbum que são muito pessoais, mas tenho certeza que o mundo inteiro se vai identificar com elas, não há dúvida. Assim como a nossa música, mas nessa parte… é melhor continuarmos reservados!

Miguel – A mensagem é o princípio – a música é o veículo. Ser livre na única (e por isso também verdadeira) forma de se ser totalmente livre – livre de medos, livre de remorsos, livre de princípios, livre de morais, apenas transparente e coerente com aquilo que se é. Quero que as pessoas que ouçam The Happy Mothers sintam o mesmo que eu senti quando a música me começou a atraír realmente – que aquilo que eu sinto, penso, ou os desejos que tenho, sejam eles qual forem, não são nem certos nem errados – apenas são. Acho que as minhas respostas anteriores dão uma resposta bastante elaborada a esta pergunta.

E como vai ser o vosso futuro próximo?

Miguel – Vamos tocar bastante, vamos apresentar os The Happy Mothers ao maior número de pessoas possíveis, vamos ser amados e odiados, vamos erguer a bandeira da liberdade e arcar com as consequências de sermos rebeldes e livres; vamos gravar o próximo álbum, “The Black Sheep”, vamos continuar a fazer aquilo em que acreditamos e a lutar pelas coisas belas, sinceras, reais, puras, pelo amor, sexo, rock n’ roll, e pela beleza da decadência. Vamos tentar fazer com que o público, principalmente o Português, ganhe uma noção mais realista do que os conceitos de “rock n’ roll” e “decadência” significam, pois estamos certos e já temos experiência suficiente para saber que pouca gente entende, sequer, de onde estes conceitos surgiram, e o que eles significam.

Pedro – Estamos sempre a crescer e a melhorar, em tudo. Nada vai fazer-nos parar, de todo.

| ROCK | Ouvir The Happy Mothers
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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.