Doze anos é muito tempo. Chega a ser difícil recordar-me já desses tempos, dos dias em que lembrei, num deles, de começar esta aventura. Dei-lhe um nome estranho para muitos, ainda que relacionado com a área: A Trompa. Daí para cá, tem sido extraordinário poder observar como tanta coisa tem mudado. Falo da música portuguesa, dos músicos portugueses, falo da indústria mas falo também e principalmente, do perfil de quem lê e ouve música portuguesa. E aí muita coisa mudou.

Não vou dissertar aqui sobre tais mudanças, vou apenas enquadrar um pouco A Trompa nesta história e a minha própria posição nesse enredo que leva já mais de 12 anos dedicados à música nacional. Nascida no apogeu da blogosfera, A Trompa foi-se transformando pouco a pouco em algo mais do que um mero blog, nunca perdendo no entanto essa essência ou esse espírito, como queiram. E isso é importante. A Trompa é e sempre foi – e assim será – o resultado do trabalho de uma pessoa só. Eu.

Bem, esses foram os tempos em que a exigência de sustentar este projecto se tornou inversamente proporcional ao tempo disponível para essa empreitada. Profissão e família a alargar obrigaram a novos rumos. E quando tal acontece, diminui também a motivação, pelo menos para fazermos aquilo que gostaríamos de fazer, da forma que gostaríamos de fazer. Há algo que sempre foi claro para mim, A Trompa sempre foi um pequeno e delicioso hobby. A verdade é que os últimos anos passaram-se muito assim, a sustentar uma ideia tornada quase num projecto de vida para o qual já não temos muita vida disponível.

O facto é que o monstro estava criado e agora era necessário alimentá-lo. Acabar com ele?

Este período apanhou também com o declínio da blogosfera e uma perda enorme de leitores directos em contraponto com o crescimento exponencial das redes sociais, em particular do Facebook. Mas não é de simples análise esta nova realidade. De vez em quando, tenho de me lembrar que os meus jovens leitores que hoje têm 20 anos, quando comecei A Trompa mal tinham entrado para 1º ciclo. E isto faz a diferença em muitos aspectos.

Está muita coisa diferente, estamos todos mais velhos ao mesmo tempo que um grupo de mais novos vai servindo para criar uma nova realidade de leitores, a sua realidade de leitores. Esses novos leitores, com muitos dos antigos, naturalmente, deixaram-se de blogs, de longos textos, agarraram-se às redes sociais e ao imediatismo da informação. Ler dá trabalho. Aceito-o e em certa medida dou-me por vencido, aliás, há muito que me dei por vencido. Desde logo pela falta de tempo para ouvir música e dissertar sobre ela, mas também vencido por esta nova realidade. Mas não, não consigo deixar este monstro ao abandono. Falta-me a coragem.

Já se percebeu que não é de desistência que quero falar, mas sim de mudança, de uma nova vida para este blog. Sim, ainda que lá esteja toda a informação de sempre, a aparência vai voltar a ser a de um blog. Mas mais importante do que a imagem, é a simplicidade, a forma directa como acho que se deve dar a música a ouvir aos leitores/ouvintes.

Este blog nunca foi feito apenas para ler. Aliás, quem segue A Trompa sabe bem que são poucas as notícias que lanço sem um som ou um vídeo para ver e ouvir. Essa vertente vai acentuar-se ainda mais e logo na homepage. Continua a não fazer sentido para mim, e é uma opinião muito pessoal, blogar sobre música sem disponibilizar música para ouvir. Em resumo e à atenção de músicos, promotores e afins, não há notícia de novos singles se não houver single para ouvir de imediato. Centrada numa informação mais sucinta, para não cansar, e já se percebeu porquê, vai acentuar-se a simplicidade na transmissão do que se quer transmitir. E o que se quer transmitir é simples, é música, muita música para ouvir.

Haja trompa e muita música nacional!

Rui Dinis

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

3 thoughts on “A Trompa e uma nova realidade….”
  1. A trompa é, e será, a eterna referência do panorama musical nacional
    abraço

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