SENSAÇÕESSamuel Jerónimo em 5 sentidos

Directamente de Valado dos Frades, Samuel Jerónimo explica-nos como se sente a sua música…Obrigado.

T: Que cores tem a música de Samuel Jerónimo?
SJ: O compositor Olivier Messiaen teria tido uma resposta bem mais clara para esta questão já que chegava a escrever em algumas das suas obras, as cores a que os acordes correspondiam.
Respondendo em nome próprio devo escolher como cor que melhor traduz a minha música, o azul. Isto acontece porque acredito que a música flúi naturalmente – numa atitude quase zen – tal como a água.
Também como a água, a música também evolui evitando a estaticidade e consequente deterioração.

T: Qual o sabor da música de Samuel Jerónimo?
SJ: A música exalta não só a audição mas também todos os outros sentidos.
Quando estou no processo de composição tento dosear os ingredientes com um mínimo uso de balança. Acredito que o q.b. associado à intuição e aos conhecimentos teóricos são tudo aquilo que necessito para compor algo que me agrade.

T: Que sonoridade tem a música de Samuel Jerónimo?
SJ: A música é como todas as outras formas de arte uma coisa muito relativa. Existem processos e catalogações que nos ajudam a categorizá-la e a dar-lhe valor, mas o certo que esse mesmo valor não é intrínseco à música. Tudo depende de quem a ouve.
Para quem não está familiarizado com o meu trabalho deverá ter em atenção que ele se encontra no grupo da música que não pretende ser, em primeira instância, lúdica.
Esta característica foi iniciada por Beethoven. Ao romper com os condicionalismos da sua época, o compositor doou à música esse carácter experimental fazendo com que cada peça sua fosse um tratado filosófico transcrito para sons. Esta atitude de por tudo em causa – inclusive o carácter lúdico da música – foi a sua grande dádiva à música e a todos aqueles que tentam romper novos caminhos mais ou menos ortodoxos, mas felizmente quase sempre interessantes.
Aos meus ouvidos conhecedores – de trás para a frente – do que estão a ouvir, a minha música continua a soar fresca, o que só por si já é uma pequena vitória pessoal.
Apesar disso, gostava de ouvir composições minhas com os ouvidos de quem ouve e não com os de quem faz. Ao fim de algum tempo a trabalhar em algo sinto que deixo de ser um bom júri do trabalho que estou a realizar.
Resolvo este problema de duas formas:
1. Chamo alguém de fora para ouvir;
2. Faço um intervalo no processo de escrita e apenas volto à peça quando me sento preparado para o fazer. Por vezes nestes períodos de interregno chego a compor outras coisas que vêm a fazer parte da peça inicial, uma vez que embora não me aperceba, o meu pensamento continua ligado à peça inicial.

T: O que se sente quando se toca a música de Samuel Jerónimo?
SJ: Eu tento transpor para as minhas peças sentimentos que tenho quando ouço coisas de que gosto. É claro que isto não faz delas cópias. As peças “Nocturnos” de Debussy e “Music for 18 Musicians” de Reich, ainda que do ponto de vistas sonoro sejam completamente díspares, geram em mim sentimentos semelhantes.
Eu procuro isso mesmo e já que os sentimentos têm como principal condão a universalidade é possível que a minha música seja agradável para diferentes culturas espalhadas no espaço e no tempo.

T: Que fragrâncias exalam do som de Samuel Jerónimo?
SJ: A nossa memória apoia-se bastante no cheiro, razão pela qual determinados odores nos fazem lembrar de algo.
Se for possível traduzir a música em fragrâncias então a minha música está repleta de fragrâncias pertencentes a pessoas, lugares e outras coisas de que gosto.

::Início de actividade: 1993.

::Localidade: Valado dos Frades/Alcobaça/Lisboa.

::Composição:
– Composição para vários instrumentos;
– Instrumento tocado: Guitarra.

::Discografia:
– Álbuns –
– Redra Ändra Endre De Fase (2004).

– EPs –
– The Distant Images of the Abstract Light (1999) – Com o projecto Bio.

– Singles –
– Fuga Transfigurada (2004) – Edição de coleccionador de apenas 20 unidades.

– Colectâneas –
– Thisobidience: These Guys Gone Out! (2003);
– Thiscotronica Sample Mind (2004) – Thistribuida com a revista espanhola Margen;
– Symptom of Thisease (2005 – Saída prevista para muito breve) – Com o projecto Bio.

::Sítio na Internet: jeronimosamuel.no.sapo.pt.

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.