Foi um segundo dia bem mais compensador…mais agitado, com sons para todos os gostos. Uma alegria para a melomania.
Infelizmente, por obra do maldito trânsito lisboeta – até ao Sábado – Bunnyranch, Realejo e Primitive Reason ficaram para trás, longe das vistas. Paciência.
Bem mas, festa é festa e não tardaria a haver momentos de alto regozijo…

E de que maneira…
Tudo começou com o estrondoso espectáculo dos Telectu (Jorge Lima Barreto e Vitor Rua) com Gunther Sommer (bateria) e Konrad Bauer (trombone). No Auditório 1º de Maio, assistiu-se a um espectáculo incrível, de base jazz, improviso máximo e de um experimentalismo delicioso. Belo. Com um espectáculo onde as músicas se foram intercalando com solos dos intervenientes, facilmente se percepcionou que estávamos na presença de verdadeiros mestres. Foi algo extasiante. Jorge Lima Barreto a tocar piano com luvas de cozinha (sim, daquelas que só têm o polegar), Gunther Sommer (um espectáculo dentro de outro) a tocar bateria com tudo o que lhe vem à mão, inclusive com a toalha que lhe limpava o suor, tudo valeu. Depois, havia ainda a excelência do trombone de Konrad Bauer e a expressão eléctrica dada ao espectáculo pela guitarra de Vitor Rua. Inesquecível.

Já uma imagem de marca da Festa, a Brigada Vitor Jara voltou a mostrar, inequivocamente, em palco, porque tem a música portuguesa um passado, um presente e um grande e esperançoso futuro. Com o espectáculo de cariz tradicional já habitual, a Brigada viu a sua actuação de ontem ser enriquecida com as brilhantes participações de Janita Salomé e Cristina Branco. Grandes momentos, uns atrás dos outros. Excelente.

Apanhado pela avalanche da Brigada Vitor Jara, quase me esquecia do ritual tango que se desenvolvia animadamente no Auditório 1º de Maio ao som do Quinteto Lusotango – como pude constatar posteriormente.
Efectivamente e infelizmente, não acompanhei mais do que 3 temas, os suficientes para perceber que a tarde estava ganha para os amantes de Astor Piazzola, músicos e público. Com os dançarinos em palco, a apresentação haveria de terminar em verdadeira apoteose, levando o grupo ao encore. Excelente festa.

Tinha chegado a vez de uma das principais surpresas musicais do ano de 2005: Lupanar.
Num apertado palco no Café-concerto de Lisboa, os Lupanar apresentaram o seu recente álbum “Abertura”. Excelentemente apresentado, diga-se, não fora o ensurdecedor barulho vindo do palco principal; felizmente, o disco não perde ao vivo uma ponta de qualidade, muito pelo contrário, ganha a vida que o disco já deixa transparecer. Por fim, uma palavra para a enorme voz de Ana Bacalhau, alma de um estilo tão próprio, original, erigida de uma fusão de vários estilos, mais tradicionais ou mais contemporâneos. Excelente espectáulo, a merecer palcos maiores.

Xutos & Pontapés. Palavras para quê, eram os mais desejados pelo povo. Com um alinhamento um pouco fora do desejado aqui pelo maestro – compreensivelmente – os Xutos & Pontapés arrecadariam facilmente o prémio do público para a actuação da noite. Orientado para a geração “Pós-Circo de Feras”, com destaque para o último “Mundo ao Contrário”, Zé Pedro – já envergando a sua t-shirt amarela “Kill Bush” – introduzia “Submissão” com um discurso bem politizado e duro sobre as misérias e miseráveis deste mundo. Voltariam para um grande encore, claro.

O que dizer sobre os Clã?
O que dizer sobre sobre aquele que é talvez o maior espectáculo pop – às vezes rock – de Portugal. Ouvir Manuela Azevedo e seus camaradas é presenciar momentos de pura magia pop, momentos de prazer sem fim. Também rock. Num palco gigante para a maioria das bandas que o utilizou, o cenário dos Clã está agora mais belo; sobre o estrado de vermelho alcatifado e em frente a um tapete de luzes reluzente, pudémos sentir o discorrer de êxitos atrás de êxitos, com particular destaque para o último “Rosa Carne”.
Em cima do palco, Manuela Azevedo é simplesmente deslumbrante.

Por fim, Linda Martini.
Confesso que tinha uma enorme curiosidade em ouvir/ver os Linda Martini ao vivo. Conhecia a maqueta e o que ouvira, deixara-me…atento.
Ainda com pouca experiência em cima do palco, o facto é que o quinteto de Queluz – André Henriques (voz e guitarra), Cláudia Guerreiro (baixo), Hélio Morais (bateria), Pedro Geraldes (guitarra) e Sérgio Lemos (guitarra) – mostrou-nos ontem um pouco daquilo que parece ser apenas uma amostra de todo o seu potencial.
Marcado pela presença forte das guitarras – três – o ambiente dos Linda Martini joga-se entre instrumentais de densidade crescente, tensos, feitos de uma pressão sonora às vezes incontrolável e de um lirismo consciente e bem sentido na voz lusa. Sónicos.

Vencedores do dia? não sei…no entanto gostaria de salientar a brilhantíssima produção e realização da equipa que transmitiu os concertos pelos painéis gigantes laterais ao Palco 25 de Abril (grua, câmaras móveis…excelente realização). Nunca vi nada assim. Haverá DVD na calha?

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.