Virou! E virou mesmo. Qual grito de libertação! Que vício!
Se há tempos atrás, sobre o EP “Dona Ligeirinha”, dizia ser este uma “lufada ou bofetada, de ar fresco ou de luva branca, o que este Diabo na Cruz é de certeza, é um dos mais bem dispostos e por isso também desconcertantes, projectos da actual música portuguesa” (1), hoje, um álbum depois, muito mais há para dizer. Os Diabo na Cruz não são apenas bem dispostos e desconcertantes, em “Virou!”, de propósito ou não, há uma posição que se vinca, arriscada mas também excitante. É uma espécie de ou vai ou racha; felizmente foi.
Não estando sozinhos nesta aventura, já que outros têm percorrido caminhos semelhantes – Deolinda, Virgem Suta ou O’queStrada, os Diabo na Cruz são os que melhor personificam esta virada. Os Diabo na Cruz trazem consigo a transformação de um paradigma estabelecido há décadas que pressupõe um certo imobilismo quase sepulcral da música popular e tradicional. Felizmente, tal como o fado, também esta experimenta novas formas de evolução, novas formas de sobrevivência. E aqui, ignorando propositadamente discussões mais ou menos filosóficas sobre o tema, resta-nos enaltecer o arrojo com que Jorge Cruz liderou este projecto, transformando “Virou!” num disco invulgarmente pop-folk de uma qualidade indesmentível. Nunca vai agradar a todos, é certo – nunca agrada, principalmente aos mais tradicionalistas, no entanto, esta é sem dúvida uma forma original de olhar a música tradicional; mais urbana, igualmente festiva e sempre viva. Tudo bebido com letras divertidas e indubitavelmente portuguesas. Tudo com a bênção natural de outro inventor como Janita Salomé – voz em “O Regresso da Lebre”.
Enfim, virou mesmo, felizmente. É o canto de uma nova portugalidade; desavergonhadamente feliz; desavergonhadamente sincera. Um obrigado a Jorge Cruz (guitarra e voz), a Bernardo Barata (baixo e voz), a João Gil (sintetizadores), a João Pinheiro (bateria, caixa e bombos) e a B Fachada (viola braguesa e voz). Um obrigado à música portuguesa.
“Virou!” – Diabo na Cruz (FlorCaveira, 2009)
01 O regresso da lebre
02 Tão lindo
03 Dona ligeirinha
04 Os loucos estão certos
05 Casamento
06 Bico de um prego
07 Dom Fuas Roupinho
08 Fecha a loja
09 Canção do monte
10 Corridinho do verão
11 Bom tempo
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