Eu pego na minha viola

E canto assim

Esta vida

A correr

Eu sei que é pouco e não consola

Nem cozido à portuguesa há sequer

Quem canta sempre se levanta

Calados é que podemos cair

Com o vinho molha-se a garganta

Se a lua nova está para subir

Que atrás dos tempos vêm tempos

E outros tempos hão-de vir

Eu sei de histórias verdadeiras

Umas belas

Outras tristes de assombrar

Do marinheiro morto em terra

Em luta por melhor vida no mar

Da velha criada despedida

Que enlouqueceu e se pôs a cantar

E do trapeiro da avenida

Mal dormido se pôs a ouvir

Que atrás dos tempos vêm tempos

E outros tempos hão-de vir

Sei de vitórias e derrotas

Nesta luta que se há-de vencer

Se quem trabalha não esgosta

No seu salário sempre a descer

Olha a polícia

Olha o talher

Olha o preço da vida a subir

Mas quem mal faz

Por mal espere

Se o tirano fez a festa

P’ra fugir

Que atrás dos tempos vêm tempos

E outros tempos hão-de vir

Mas esse tempo que há-de vir

Não se espera como a noite

Espera o dia

Nasce da força que transpira

De braços e pernas em harmonia

Já basta tanta desgraça

Que a gente tem no peito

A cair

Não é do povo

Nem da raça

Mas do modo como vês o porvir

Que atrás dos tempos vêm tempos

E outros tempos hão-de vir

(Letra: Fausto)

Fausto_atarsdostempos

“Atrás dos Tempos Vêm Tempos” – Fausto (1996/Sony Music)

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.