A voz; o fado…
Esta não é apenas uma referência a “Sempre de Mim”, é essencialmente uma referência ao artista Camané. Não só pelo grande fadista que é, há muito a nossa melhor voz masculina no fado – no mínimo, mas também pela abertura de espírito, pela liberdade e frontalidade com que enfrenta outros desafios – os Humanos o mais visível.
Sem gravar originais desde 2001, ao quinto álbum, Camané oferece-nos um disco fantástico. São 16 temas interpretados com uma segurança incrível, com aquele sentimento que só o fado, quando bem cantado, faz sentir; gela, mostra aquela pele de galinha. Bem vincado o seu tradicionalismo, nos 10 fados tradicionais que evoca, com letras minuciosamente escolhidas de Pedro Homem de Mello, Luís de Macedo, David Mourão-Ferreira, Fernando Pessoa, Manuela de Freitas e Jacinto Lucas Pires, Camané não deixa de mostrar algum modernismo, alguma evolução, especialmente na forma como os instrumentos completam os arranjos em alguns fados – ouça-se o belíssimo “Este Silêncio”. Depois, há ainda originais do histórico Alain Oulman, um inédito de Sérgio Godinho e três músicas de José Mário Branco. É este que mais uma vez e brilhantemente, assume as rédeas da produção. Sobre o resto e sobre tudo, dizer que é apenas fado, sem mácula, consciente e com uma produção irrepreensível, capaz de deixar fluir toda a musicalidade por entre as palavras firmes ditadas por Camané.
Não é mais um disco de Camané, é o disco. Perfeito, porque não.
“Sempre de Mim” – Camané (EMI, 2008)