Não são raras as vezes em que, depois de apresentado um merecedor projecto português a alguém sem hábitos de audição da música que se faz por cá, salta uma expressão que tem tanto de sintomática como de irritante:
– Nem parece português!
Infelizmente, a ignorância e alguma predominância de um sentimento de pequenez torna esta expressão muito mais comum do que possamos pensar. Adiante.
Isto tudo, para dizer que “Jamboree Park At The Milky Way” e The Weatherman se encaixariam sem espinhas neste perfil de projecto. Para além do óbvio, de não parecer português por ser cantado em inglês – aqui percebe-se a dúvida, a verdade é que “Jamboree Park At The Milky Way” é desde que começa até que acaba, um belíssimo disco. Não encantará toda a gente, conhecedores ou não, mas uma coisa devemos reconhecer; o trabalho de composição foi preparado ao milímetro, nunca lhe ficando atrás todo o trabalho de interpretação. E quando assim é, as probabilidades de obtermos um grande disco aumentam exponencialmente. Ainda mais, quando à musica se junta um cuidado trabalho de vozes; as que dizem palavras feitas “sentimentos à flor da pele“, como The Weatherman lhes chama na entrevista que concedeu a este blogue. O quase épico “Gods Reply” e o infantil “Candy Clem” são disso um óptimo exemplo. Da terra para o céu.
Se“Cruisin’ Alaska” (Monocromática, 2006) havia sido uma verdadeira bomba no espectro pop nacional, bem colado a óbvias influências de Beach Boys e Beatles, já com “Jamboree Park At The Milky Way” é dado um passo firme no sentido da diferenciação, de alguma independência estética. Sem nunca perder o aroma do rock das décadas de 60 e 70 – do pop ao psicadélico, que se mantém bem vivo desde o anterior disco – com as mesmas influências, há no novo uma outra frescura instrumental, uma outra complexidade nos arranjos; mas o mesmo bom gosto. Ao contrário de “Cruisin’ Alaska”, um disco mais aninhado sobre si mesmo, fruto de alguma solidão,  “Jamboree Park At The Milky Way” é um disco mais solto, um disco de luz, aberto às pessoas e ao mundo. Na verdade, 0 tempo passou e Alexandre Monteiro abriu-se também ele a um mundo exterior cheio novos de estímulos. Com isto, obtivemos um disco pop de grande rigor estético. Um disco pop de aromas vários; o cançoneteiro idealizado por Alexandre Monteiro.
E sim; é português!

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capa de Jamboree Park At The Milky Way
“Jamboree Park At The Milky Way” – The Weatherman (Sublime Impulse, 2009)

01 Far-off places
02 Chloe´s hair
03 Follow you everywhere
04 Long tongue girl
05 Floating downwards
06 Summer dream
07 Too much to mention
08 God´s reply
09 Candy clem
10 Starship girls
11 We were given space
12 La fontaine

género: pop

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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