Não são muitos. É quase um facto. Poucos terão sido os músicos nacionais, ou grupos, capazes de ter já marcado com tanta abundância e qualidade o século XXI. Parece-me um facto praticamente indesmentível. Com álbuns editados em 2003 (“April”, Bor Land), 2005 (“Twice the Humbling Sun”, Bor Land) e 2007 (“The Temple Bell”, Bor Land) – sem quere esquecer “Old & Alla” (Edição de Autor, 2001) e “Splitted” (Bor Land, 2006), em 2009 volta a ver reconhecida toda a arte de Francisco Silva, o homem por detrás do projecto Old Jerusalem. E não é só uma arte, é também um mundo. Um mundo que o artista abre com sinceridade aos outros a cada dois anos. Os outros, nós, irradiamos felicidade.
É verdade que a obra de Old Jerusalem não é marcada por grande diversidade ou evoluções de âmbito estético; e “Two Birds Blessing” também não o é. E também já se percebeu que a trajectória de crescimento de Old Jerusalem pouco ou nada tem a ver com uma reinvenção criativa constante. O crescimento é de espírito e caminha numa única direcção capaz de fazer as mesmas ou coisas parecidas de uma forma cada vez mais consistente; reconhecidamente melhor. E disso também não dúvidas: “Two Birds Blessing” é um disco de Old Jerusalem.
No fundo ou à superfície, são canções. São apenas canções. Cada vez mais apuradas, mas são canções. Pedaços de som e palavras soprados com uma delicadeza desarmante. Com toda a calma deste mundo, são canções que vivem sem presaa de morrer; sem pressa de ver o último acorde ditar o seu fim. Mas no fim, morrem sempre felizes. Ao quarto álbum, a música de Old Jerusalem está mais aberta, mais leve e disponível, nunca perdendo aquele seu intimismo tão característico. Nunca perdendo a vitalidade, aquela simplicidade reconfortante capaz de nos embalar e convencer que afinal vale a pena. Vale a pena parar um pouco e ficar ali, parado; a ouvir; a sentir; a fruir. Há algo de quase mágico nesta forma de respirar das canções de Old Jerusalem. Nesta forma de manusear sentimentos. Depois, ouvimos tudo ser sussurrado com aquela voz repleta de formas, capaz de nos convencer ao primeiro suspiro. E convence.
Mas para que tudo faça mais sentido, “Two Birds Blessing” traz consigo alguns convidados: Pedro Marques no piano e sintetizador, Pedro Oliveira na bateria e percussão, Márcio Carvalho no baixo, Jorge Loura na guitarra, Susana Magalhães na viola, Gabriela Magalhães no violino, Alexandrina Faria na flauta e José Abreu na trompa. Paulo Miranda voltou a ser o responsável pela gravação e produção do disco. E ainda bem.
E porque não é segredo para ninguém – pelo menos para os mais atentos, qual Midas dos tempos modernos, Francisco Silva é sem duvida, na actualidade – e no novo século, um dos nossos mais iluminados letristas e compositores. “Two Birds Blessing” é apenas mais um exemplo. Apenas mais um.
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“Two Birds Blessing” – Old Jerusalem (Rastilho Records, 2009)
01 Arduinna and the science boy
02 The gene genie
03 Seventh day, dawn
04 Ominous prayer
05 Pale mirror of you
06 Restless choose leaving
07 The news bit
08 The soviet face
09 The guilt albatross
10 Two birds blessing
11 You, you & me, me
[…] “No fundo ou à superfície, são canções. São apenas canções. Cada vez mais apuradas, mas são canções. Pedaços de som e palavras soprados com uma delicadeza desarmante. Com toda a calma deste mundo, são canções que vivem sem presaa de morrer; sem pressa de ver o último acorde ditar o seu fim.” (a trompa) […]