Às vezes, fazer não custa, o difícil é fazer bem.
À surpresa do fim algo abrupto de uns luminosos Chuchurumel, César Prata respondeu vigorosamente este ano com uma nova aventura sonora: Assobio. E não é um assobio dado para o lado, muito pelo contrário, esta é uma assobiadela convicta, bem em frente. Se em termos estruturais, esta aventura não foge muito à anterior, já quando se olha mais fundo, descortinam-se neste novo projecto alguns passos em frente. Passos seguros.
A ideia central mantém-se. A esperança de fazer nascer do tradicional  uma nova realidade musical. Uma tradição renovada pelas possibilidades proporcionadas pela modernidade tecnológica – da programação; do processamento; da electrónica. Essencialmente, falamos do resultado do cruzamento da música tradicional portuguesa com outras linguagens musicais mais recentes. O resultado é claramente positivo, mantendo César Prata na liderança deste processo de renovação, que se quer natural. É natural. Depois, os passos em frente sentem-se a cada faixa desfrutada, desde logo, pela solidez sentida em cada tema. O tempo com Chuchurumel deu a César Prata o necessário tempo de amadurecimento que se sente neste Assobio. Por outro lado, o projecto Assobio foi levado por César Prata para outros territórios – não só geográficos; o tradicional castelhano; o medieval; a tradição oral. São os novos caminhos que se trilham no monte e na cidade.
O “Assobio” foi gravado entre Dezembro de 2008 e Março de 2009, sendo composto por 13 temas: cinco canções tradicionais da Beira Alta, duas da Beira Baixa, uma algarvia, uma canção tradicional de Salamanca, uma canção medieval, um instrumental original, uma oração alentejana e um outro original (letra de Américo Rodrigues e música de César Prata). Vanda Rodrigues é o assobio que tão bem se ouve. Os arranjos são todos de César Prata.
O resultado final é bastante equilibrado e sóbrio; resultado difícil quando a fusão de recursos tão distantes no tempo são as armas ao nosso dispor. Não é caso único, o projecto Megafone já o fizera com semelhante brilhantismo, em todo o caso, Assobio é arrojado, é interessante e acima de tudo, pode vir a ser importante. Muito importante.

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capa de Assobio
“Assobio” – Assobio (Teatro Municipal da Guarda, 2009)

01 D. Varão
02 Cantiga da ceifa
03 Lá em cima naquela serra
04 Já lá vai ao mar abaixo
05 Nossa Senhora do Leite
06 Danza del rey Don Alonso
07 Assobio
08 En Lixboa sobre lo mar
09 Oração para tirar o sol
10 Dorme dorme meu menino
11 Entrudo
12 Nórdica
13 Encomendação das almas

género: tradicional
aassobio.blogspot.com
www.tmg.com.pt

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

2 thoughts on ““Assobio” – Assobio”
  1. […] “A ideia central mantém-se. A esperança de fazer nascer do tradicional uma nova realidade musical. Uma tradição renovada pelas possibilidades proporcionadas pela modernidade tecnológica – da programação; do processamento; da electrónica.” (a trompa) […]

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