Corria o ano de 1975, no Teatro Maria Matos a 15 de Fevereiro…nem um ano passara…
Também na música, no Festival da Canção, a vontade militar imperava; nesse ano, Portugal foi representado no Eurofestival da Canção pelo Capitão Duarte Mendes. Em Estocolmo “Madrugada” obteve 16 pontos, um 16º lugar entre 19 países.
A letra não deixa dúvidas, a revolução estava no ar…
Madrugada
Dos que morreram sem saber porquê
Dos que teimaram em silêncio e frio
Da força nascida do medo
Da raiva à solta manhã cedo
Fazem-se as margens do meu rio.
Das cicatrizes do meu chão antigo
E da memória do meu sangue em fogo
Da escuridão a abrir em cor
De braço dado e a arma flor
Fazem-se as margens do meu povo
Canta-se a gente que a si mesma se descobre
E acordem luzes arraias
Canta-se a terra que a si mesma se devolve
Que o canto assim nunca é demais
Em cada veia o sangue espera a vez
Em cada fala se persegue o dia
E assim se aprendem as marés
Assim se cresce e ganha pé
Rompe a canção que não havia
Acordem luzes nos umbrais que a tarde cega
Acordem vozes, arraiais
Cantam despertos na manhã que a noite entrega
Que o canto assim nunca é demais
Cantem marés por essas praias de sargaços
Acordem vozes, arraiais
Corram descalços rente ao cais, abram abraços
Que o canto assim nunca é demais
O canto assim nunca é demais
(Letra e Música: José Luis Tinoco)
Em “Madrugada” – Duarte Mendes (1975/Orfeu)