Chama-se “Cassete no Interior” e é o segundo EP do trio lisboeta Alucina. São os próprios a apresentá-lo, faixa a faixa.
01 Vaivém – Uma conjugação de acordes surgiu numa madrugada, na véspera de um dia útil qualquer, com um olho numa qualquer série da TV e outro na guitarra eléctrica não amplificada. Aqui ficou marcado o ambiente e tema que envolveram a canção: tédios; altos e baixos; e percepções sobre o que nos move. Outras partes de guitarra se somaram e ficaram a marinar até a letra ganhar forma. O esqueleto da canção conhece a banda quando já está completa. A banda deu-lhe o sangue e a carne e vestiu-a com peso e Groove qb.
02 Cassete no interior – Visão sob diferentes pontos de vista da previsibilidade das pessoas e o peso desta na afirmação das suas personalidades. As relações pessoais como um jogo ou uma dança. Letra e música nascem em simultâneo e formaram (sem que isso fosse um propósito) a primeira canção gravada de Alucina que não recorre a distorções. Foi daquelas canções, que parecem que só têm meio. Os Alucina, construíram, desconstruíram e construíram outra vez para lhe dar a estrutura e dinâmica certa. Parafraseando a própria música foi mesmo “esgota até gostar”. Valeu a pena. É o primeiro single do EP.
03 Perigo Tóxico – A ideia da letra surgiu com a entrada em vigor da lei do tabaco em 2008, provavelmente numa noite chuvosa à porta de uma restaurante a fumar. Na altura existia apenas as primeiras duas estrofes. Mais tarde, pegou-se nessa estrutura e moldou-se a outras partes instrumentais que vínhamos experimentando em estúdio de forma descomprometida. Reúne vários ambientes musicais diferentes e a sua construção deu bastante gozo.
04 Locutor de rádio nocturno – Num tempo morto de um ensaio o Norte começou a tocar uma linha de baixo ao qual o Lourenço se juntou com ritmos quase tribais. O Fábio foi atrás dele. Esta canção foi durante quase um ano, um “instrumental livre”, tocado naquela parte do ensaio em que não há qualquer tipo de sensação de estar a “trabalhar”. Uma espécie de exercício de dinâmicas bem fora daquilo que a banda costuma tocar. Podia demorar 1 ou 10 minutos. Até que numa noite, ao ouvir um programa de rádio, o Fábio encontrou o mote para a letra. Tornou-se óbvio que as estrofes casavam com o instrumental. A partir daí foi impor-lhe limites.
05 De vez em quando – Foi tocada vezes a fio com sons estranhos a imitar letra, com uma ou outra palavra âncora lá no meio. Chegou a ser inventada uma outra letra horrível, rapidamente deitada fora e esquecida. Quando a letra surgiu na totalidade, a música estava praticamente pronta. Tinha-se a noção de viria uma boa letra, mas parecia estranho tocar um instrumental simples, sem letra. Foi claramente a malha de baixo que colou tudo e deu forças para se aguentar tocar a música até que viesse uma letra. A versão original da música tem uma introdução usada para iniciar concertos. Na gravação, optámos por não colocar essa parte. Das canções mais fiéis às origens “apunkalhadas” da banda.
06 Deserto da paz – Única canção com letra do Lourenço, com o Fábio a dar uns toques. O riff inicial surgiu na experimentação de um pedal Fuzz que simula amplificadores vintage. O resultado era pesadão e a bateria do Lourenço deixou isso mais claro ainda. Nos ensaios tocava-se o que agora é a introdução da música à espera que algo surgisse. Aquilo soava a rock old school a tresandar a gasolina. Soava-nos a Mothorhead ou algo do género. Um dia o Fábio deparou-se com letras antigas do Lourenço e o tema carros assentava que nem uma luva. Porém a ligação entre tudo ainda deu um certo trabalho. Aliás, fazer esta música custou uma guitarra partida. É por todos os motivos a faixa mais roquenrole do EP.
Alucina – “Cassete no Interior” (MAR, 2011)
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