Os mais atentos já terão reparado que B Fachada é nome que suscita alguma discórdia. Amado por uns, quase odiado por outros, endeusado pelos primeiros e vulgarizado pelos segundos, o facto é que B Fachada tem marcado indubitável e indelevelmente a história recente da música popular portuguesa. Desde logo, pelo ritmo alucinante com que edita nova música.

Hoje, o motivo de conversa chama-se “B Fachada”, o homónimo álbum que o músico lançou em 2011. Depois, lamento desiludir uns e outros mas por aqui não se odeia nem se ama B Fachada. Por aqui, prefere-se olhar para B Fachada como aquele ainda jovem compositor, arrojado mas humano. Nem novo Deus da música lusa nem o mais trivial dos cantautores da ultima geração. Aliás, este último epíteto, para além de injusto é muito pouco honesto face ao que o músico já produziu e ao esforço depositado na construção da canção lusa. Goste-se ou não e não achando particularmente cativante a música de B Fachada, esta merece claramente o nosso respeito.

A estética em B Fachada é importante; ou melhor, a falta dela. Este é, claramente, pelo menos até agora, uma das marcas que diferencia B Fachada. É o tal ponto forte que numa outra perspectiva se pode transformar facilmente numa das suas maiores fraquezas. A coerência estética, a recusa da normalidade que B Fachada faz questão de vincar a cada disco. O ser desconcertante. Ainda que os pontos de contactos sejam vários e evidentes, são ainda assim muitos e diferentes os discos de B Fachada. Chegam a parecer desconexos entre si, sem pontos de ligação, até neste disco observamos um pouco dessa realidade, quando comparamos a abertura com “Sozinho no Roque” com o fecho batido de “Mané-Mané”. É a recusa da norma que tanto confunde quem com dificuldade se consegue libertar da obrigatoriedade em engavetar toda a arte.

“B Fachada” é apenas mais uma peça do abrangente puzzle que é o desenho criativo de B Fachada. Com maior ou menor complexidade na composição, com maior ou menor complexidade na interpretação, até porque já o vimos nas duas vertentes, B Fachada diferencia-se também pelo uso que faz da língua portuguesa, por pouco ortodoxo que por vezes seja. Se é discutível, porque o é, também é isso que o torna diferente, original e o fez ganhar o espaço que tem hoje no panorama musical luso. Sem filosofias, sem complicar o que não necessita de ser complicado, a poesia em “B Fachada” embarca num tom confessional, como quem olha para dentro à procura de si próprio e do caminho que o levará dali para fora; aqui e ali fazendo jus à influência de um certo Cruz, também ele contador de histórias feitas canções.

B Fachada é um poeta camaleão daqueles que muda de cor conforme o estado d’alma, o estado da vida, numa poesia livre, às vezes de rima fácil e até surreal. Isto, juntamente com o minimalismo da sua composição e a voz teimosamente escondida, faz de B Fachada a personagem misteriosa que é. Sabemos que há um Bernardo por detrás deste B, mas a fachada, aqui, é muito mais do que isso, é o alicerce de um edifício criativo que se vem construindo, paulatinamente. Não sendo perfeito e mesmo que a simplificação de processos nem sempre transforme a música de B Fachada em algo de fácil assimilação, é nesta criatividade camaleónica que reside parte da riqueza da arte de B Fachada.

É a diferença marcada pela surpresa, pela novidade de fazer sempre diferente. Cada um com os seus olhos, cada um com os seus ouvidos, cada um com as suas emoções. De uma forma ou de outra, há que dar créditos à perseverança e à vontade de querer fazer diferente. Estão dados.

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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.