OLHARES|"New Communities For Better Days" – Hipnótica

Fiquei a pensar, no recosto de sempre, numa espécie de transe…
Tenho para mim os Hipnótica como uma das bandas mais interessantes da nova música moderna portuguesa; ganharam o céu com o fantástico “Reconciliation” e voltam a confirmá-lo com este novo e conceptual “New Communities For Better Days”. Num mundo diferente, de novas comunidades, novas formas, novas ideias.
“New Communities For Better Days” não vem rotulado com a palavra surpresa – definitivamente; noutro sentido, traz a marca de um caminho que se vem trilhando ano após ano, disco após disco, com uma solidez cada vez maior. Se “New Communities For Better Days” é muito diferente de “Reconciliation”? Não; Se “New Communities For Better Days” é melhor que “Reconciliation”? Sim. Não porque seja extraordinariamente diferente – já deu para perceber, mas porque traz toda a magia do disco anterior com um nível de amadurecimento muito superior. São 13 faixas de uma trabalho instrumental laborioso, irrepreensível.
Hipnótico; é esse o espírito. Mais ambiental, o cenário tem a cada momento um peso maior na forma como as personagens desta história se movimentam agilmente pela trama. Sempre em equilíbrio. A estética do jazz, embrião deste novo disco – também, é apenas a chama, o detonador de uma síntese perfeita iniciada há álbuns atrás e que agora se vê quase concluída. O rock, a electrónica, o trip hop, são eles que num equilíbrio tão frágil como encorpado, empurram os Hipnótica para o salto da confirmação. O cruzamento de estéticas em “New Communities For Better Days” – sem nunca perder o tino – tornam-no na sua simplicidade uma pequena maravilha sonora. O cuidado; é um disco trabalhado, atento, manuseado com paixão e sentido, um disco feito de encontros, experiências diversas, pequenos toques que no fim o diferenciam…a flauta, o saxofone, o gamelão, o clarinete, a harpa, o contrabaixo…fantástico.
“New Communities For Better Days” conta com um a lista de convidados tão vasta como heterogénea, uma lista onde se incluem nomes como Riz Maslen (aka Neotropic), Nanar Vorperian, Hidekazu Wakabayashi ou Francisco Rebelo. A produção voltou a ficar a cargo de Wolfgang Schloegl (Sofa Surfers).
No fim, já bem no fim, aquele prazer; pela busca, pela inovação, pelo encontro…só prazer.
Para ouvir, todo.

Ouvir alguns sons de Hipnótica.