Depois da edição digital, aí está a edição física de “Discórdia”, o recente disco dos Alice. O grupo explicou-o, letra a letra…
#01 // Premissa: “A Premissa é uma introdução ao resto do álbum, apresenta-se como uma antevisão da história que se vai desenrolar ao longo do resto dos temas. É também uma reflexão triste e negativa acerca de todos os acontecimentos que vieram dar origem a uma consequência inevitável, a Discórdia, retratada ao longo do decorrer do álbum.”
Letra por Afonso Alves
#02 // Discórdia: “Discórdia retrata um conflito interno, uma dualidade. Dois seres num mesmo corpo [“trocar a pele”]. A pessoa que causou toda a mágoa não consegue nem quer mudar a sua maneira de ser, mas tudo o que essa pessoa é e representa, vai contra o que a sociedade procura. Representa também a solidão e o facto de, por vezes, ser difícil encontrarmos conforto no nosso próprio habitat. Nós somos exactamente aquilo que vai contra os nossos próprios valores. Somos nós mesmos que nos fazemos duvidar de nós próprios. Muitas vezes, discordamos de nós mesmos.”
Letra por Afonso Alves & Diogo Borges
#03 // Diabo Na Mão: “Este é um tema com uma sonoridade forte, que pretende mexer com as mentes mais fechadas. Reivindica o facto de não querermos mudar [“por mais que tenhas razão, eu não estou cá para te ouvir”] mesmo sabendo que estamos errados. Tem uma mensagem simples, forte e eficaz.”
Letra por Afonso Alves & Diogo Borges
#04 // Gato Morto: “Não há como não gostar do Gato Morto, a história de um gato pingado que se encontra à margem da cerca, como muitos outros, e como todos eles não deixa de errar e desiludir todos aqueles envolvidos na sua vida. O refrão é forte e pretende enaltecer a tristeza desse gato que se quer redimir. [“Gato morto” é uma metáfora que pretende representar um jovem que leva uma vida menos bem vista pela sociedade (droga, delitos, etc)]”
Letra por Afonso Alves & Diogo Borges
#05 // Império Intendente: “Império Intendente conjuga todos os desajustados de uma designada sociedade: Um dançarino descoordenado, um ébrio que te indica o caminho, um pseudo-intelectual vivido e uma beata alcoolizada. É o prolongar da história do gato morto [representado no tema anterior]. Império Intendente dá-nos a conhecer o mundo dos desajustados e descreve-nos a realidade em que o nosso gato morto vive.”
Letra por Diogo Borges, António Santos & Afonso Alves
#06 // O Corpo: “O Corpo fala-nos de um sujeito desprovido de alma. Descreve o momento em que só há mais um “corpo louco” que enfrenta uma plateia sem público, ciente da sua banalidade enquanto artista. Confrontado com o seu próprio âmago e vaidade, a sua necessidade de se exprimir não cessa. [O Corpo descreve uma realidade bem presente na indústria da música, fala de um artista cuja arte é vazia e procura apenas um fim: o lucro, seja ele financeiro ou de outra ordem material.]”
Letra por Afonso Alves & Diogo Borges
#07 // Homem Nobre: “Liricamente, pode ser visto como uma realidade à parte do resto do álbum, representa um sentimento patriótico e a necessidade de uma intervenção em Portugal. No entanto pode também ser visto como a aceitação final de uma pessoa que se perde e não sabe quem é – “E quem eu sou(…)” – e finaliza – “Um homem nobre que acaba aqui (…)”. Esta personagem espera por tempos melhores, enaltecendo-se enquanto um nobre mártir. É uma historia que não acaba bem sendo que o personagem representa várias coisas, o país (perdido e com rumo incerto), a música portuguesa (que começa a ser enaltecida por uma nova geração de músicos) ou mesmo o próprio português. [No seu âmago, Homem Nobre foi concebido como um tema de desespero amoroso adolescente. No entanto, foi ganhando proporções de interpretação mais largas, sendo que pode ser visto como um retrato naive da actual situação do país, representando os sacrifícios a que os portugueses têm sido sujeitos. Esta é, claro, uma interpretação secundária que advém da participação do nosso amigo Malabá, que conferiu um tom mais político a um tema que se mostrava nitidamente de cariz amoroso. É portanto uma letra com duas possíveis interpretações que deixamos à preferência de cada ouvinte.]”
Letra por Afonso Alves, Diogo Borges & Malabá [OUVIR]