Repetindo a trupe de “Teatro”, Rodrigo Amado regressava em 2009 com um novo disco. Em conjunto com Kent Kessler e Paal Nilssen-Love, fazia nascer “The Abstract Truth”. Foram assim esses dias:

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Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “The Abstract Truth” (European Echoes, 2009)

Estávamos em finais de 2007 quando surgiu um convite por parte do CCB (ainda sob a liderança de Mega Ferreira) para comissariar um Festival exclusivamente dedicado à música portuguesa, abrangendo jazz, música clássica, erudita contemporânea e música improvisada. Os comissários fomos eu, o António Pinho Vargas e o Pedro Santos, com o qual eu tinha na altura uma empresa de agenciamento e produção de espectáculos que trouxe a Portugal espectáculos memoráveis de David Sylvian, Steve Reich, Laurie Anderson, Robert Fripp, Antibalas Afrobeat Orchestra ou Ryuichi Sakamoto, entre muitos outros. Claro que o convite nos deixou a todos super entusiasmados e ficou no ar a possibilidade de se fazer algo verdadeiramente especial. Ainda hoje penso em como é possível que este tipo de eventos não aconteça regularmente pela mão das principais instituições estatais, como é o caso do CCB ou da Casa da Música. O referido ciclo, ao qual foi dada a designação “Música Portuguesa Hoje”, a decorrer de 11 a 13 de Julho de 2008, era inicialmente suposto acontecer de 3 em 3 anos, o que não se veio a verificar, infelizmente. Integrados na programação estavam concertos de Ricardo Rocha, Lume Big Band, Camané, Bernardo Sassetti, Mário Laginha, João Paulo, Sei Miguel, Ernesto Rodrigues, Pocketbook of Lightning (Nuno Rebelo e Marco Franco), Orquestra Jazz de Matosinhos, Quarteto de André Fernandes, Rafael Toral Space Trio e Carlos ‘Zíngaro’ (com John Butcher e Gunter Muller), Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orchestrutopica, Orquestra de Câmara Portuguesa e Orquestra de Altifalantes. Foi referida como “a maior mostra de música portuguesa realizada até hoje”, o que ainda hoje será verdade, e foi um enorme sucesso, a nível artístico e de público. Ficou também acordado que seria incluído no festival um dos meus projectos, oportunidade que aproveitei para tornar a reunir o trio com o Kent e o Paal. A música gravada em Teatro e a fortíssima empatia que sentia a tocar com estes dois músicos tinha-me deixado a certeza de que este era um projecto que eu queria gravar regularmente. Uma espécie de barómetro da minha própria música. E assim, no dia seguinte ao fim do festival (14 de Julho de 2008) entrámos em estúdio. A sessão foi fortíssima e The Abstract Truth tornou-se um novo marco na minha discografia ultrapassando o relevo dado a Teatro. O conceito de “verdade abstracta” foi escolhido por acreditar que, apesar de frequentemente abstracta em termos de formas, harmonia e melodia, a música improvisada é profundamente verdadeira. Na improvisação, ao tocarmos, ficamos totalmente vulneráveis e temos de ser nós próprios. Não dá para fingir, ou encenar, como na pop ou no rock. Aquilo que tocamos no momento está directamente ligado a quem somos, naquele lugar e naquele preciso momento. E os melhores e mais poderosos improvisadores são aqueles que melhor sabem quem são e o que querem fazer. A capa do disco é novamente retirada de uma pintura do meu pai e representa também uma “verdade abstracta” – um beijo que é afinal apenas um recorte num pedaço de madeira.

Rodrigo Amado

[OUVIR]

Artigos anteriores:

2002 Lisbon Improvisation Players ‎– “Live_LxMeskla” (Clean Feed) Ler

2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler

2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler

2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler

2007 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007) Ler

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.