“Zoom Code” é um disco curioso; não tanto pelo rótulo que se lhe há-de colar, mas antes porque dele emana todo um espírito criativo que nos surge cada vez mais como o caminho a trilhar pela banda transmontana. Um caminho que os leva a fugir à apatia, à repetição, à boçal normalidade. O caminho que os leva a cruzar o metal com as mais diversas influências, fazendo dali brotar um metal moderno e cativante; um metal de fusão, às vezes até algo exótico. O rótulo, esse, diz sempre metal. E sim, bons ventos sopram de Santa Marta de Penaguião.
Mas voltemos ao rótulo apenas para dizer que não passa disso mesmo, de um ponto de partida. O metal nos ThanatoSchizO (Eduardo Paulo – voz, guitarra e percussão, Filipe Miguel – teclados e sampling, Guilhermino Martins – guitarra, sampling e voz, Miguel Ângelo – baixo, Patrícia Rodrigues – voz – e Paulo Adelino – bateria e percussão) é mais como uma placa giratória para outras derivações estéticas. Mais do que uma banda mergulhada no death-metal dos primórdios – que ainda experimentam e bem em “Zoom Code”, os ThanatoSchizO são hoje uma banda em evolução, em experimentação constante. São muitos os géneros que se cruzam tenuemente em “Zoom Code”; do mais marcado metal progressivo – com um bom trabalho ao nível dos teclados e da electrónica, sem esquecer as guitarras, a uma vertente mais étnica – a ganhar cada vez mais espaço, acabando numa ideia gótica que espreita aqui e ali, tudo em “Zoom Code” parece fruto de uma vontade generalizada de fusão. É toda uma atmosfera que se respira. É esta posição inventiva, esta visão que dá à música dos ThanatoSchizO a amplitude que ela tem hoje; uma amplitude que se sente claramente em “Zoom Code”. Um registo feito de acelerações diferentes, combinando momentos de grande energia, com outros de maior serenidade, combinando momentos de agitada dureza, geralmente marcados pela voz gutural de Eduardo Paulo – bem melhor a rasgar, com momentos de grande melodia – na outra voz, com a suave Patrícia Rodrigues. Um registo completo.
Este é ainda um disco de síntese, um disco onde se sente não só um pouco de tudo aquilo que os ThanatoSchizO já foram, mas onde se sente também e se perspectiva tudo aquilo que estes são hoje e poderão vir ainda a ser. Mais seguros do que nunca, “Zoom Code” traz toda uma ideia de exploração; de reinvenção do seu próprio metal. Há toda uma musicalidade que não se esgota no tal rótulo, mas que vive também do sampling de Zweiss (Umoral, Fleutery e ex-Dodheimsgard) e Francisco Pina, em “The Shift”, do violino de Timb Harris (Estradasphere) em “L.” ou do saxofone em “Awareness” e da concertina em “Hereafter Path”, de António Pereira. É este às vezes complexo jogo instrumental, com tanto de arriscado como de surpreendente, que torna “Zoom Code” um disco apetecível. Arriscado porque se torna perigoso alargar tanto o espectro instrumental – dentro do o género, podendo nunca atingir a consistência necessária, mas surpreendente pela forma como consegue evitar tais perigos. Não é um disco perfeito nem entra no ouvido à primeira, no entanto, quando entra, a coisa faz-se, recordando-nos como a agressividade do metal pode ser às vezes tão doce. Às vezes é mesmo.
Com uma produção bem interessante, no fim, todo o disco se expande pelo tímpano com uma naturalidade retumbante. Não que seja algo de verdadeiramente original – já pouca coisa nos surpreende, mas porque resulta muito bem na forma final como nos é apresentado. Criativo, “Zoom Code” é uma barril de diversidade pronto a ser descoberto, explorado e sentido; resultado de 10 anos de trabalho já consubstanciados em 4 álbuns.

som ThanatoSchizO.


“Zoom Code” – ThanatoSchizO (My Kingdom Music, 2008)

01 Thick ‘n’ Blurry
02 L.
03 Hereafter Path
04 (Un)bearable Certainty
05 Pleasure Pursuit
06 The Shift
07 Last of the Few
08 Pale Blue Perishes
09 Pervasive Healing
10 Nothing as it Seems
11 Awareness

tipo Metal
sítio www.thanatoschizo.com
sítio www.thanatoschizoforum.web.pt

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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