Uma ansiedade tornada realidade; a realidade da novidade. É hoje editado o novo álbum dos portuenses Mandrágora.
Três anos depois do surpreendente “Mandrágora” (Zounds, 2005), os mesmos Mandrágora mostram finalmente o sucessor desse magnífico primeiro álbum; o novo chama-se “Escarpa”. Não, que fosse imperativo provar o que quer que fosse, no entanto, os Mandrágora fizeram questão de voltar a afirmar porque são um dos projectos mais criativos e originais na área da folk nacional. Os artistas, esses, são Filipa Santos (flautas, saxofone e gaita-de-foles), Ricardo de Noronha (bateria e percussões), Pedro Viana (guitarra clássica), João Serrador (baixo) e Sérgio Calisto (guitarra 12 cordas, violoncelo, nyquelarpa, moraharpa e bouzouki). É de arte que falamos.
Sem nunca esconderem as raízes folk que orientam a sua música – nem faria sentido, em “Escarpa”, os Mandrágora encetam uma estonteante correria ladeira abaixo – íngreme, numa velocidade tal, que leva atrás de si um mundo de paixões; não são só tradicionais, tem paixões rock pelo meio – bateria e baixo ajudam , tem uma paixão jazz a olhar de soslaio – com um saxofone em devaneio, tem toda uma nova forma de transformar o presente, mostrando-nos como o futuro pode ser feito de uma luz ainda mais forte que a do presente. É isto que os Mandrágora fazem com grande arrojo, numa reinvenção constante, num deambular experimentalista pelo que o folk permite, experimentar. “Escarpa” permite-nos ser surpreendido a cada faixa.
“Escarpa” é uma explosão; deflagração impulsionada por uma riqueza instrumental única, absorvida por arranjos diferentes, complexos, bem sucedidos na combinação instrumental que é todo o desenho sonoro do grupo. Ao baixo e à bateria, junte-se ainda o trabalho central da guitarra, a magia da gaita-de-foles e das flautas, a diferença do violoncelo, da moraharpa e da nyquelarpa; junte-se ainda o acordeão diatónico de Simone Bottasso, a sanfona de Matteo Dorigo e as vozes de Francisco Silva – também na guitarra – e de Helena Madeira. “Escarpa” é de uma excelência instrumental.
Composto na sua totalidade por temas originais dos Mandrágora – excepto o tradicional da Beira Baixa “O Que Calma Vai Caindo”, “Escarpa” é verdadeiramente luminoso no seu todo, na forma como a produção conseguiu dar à luz tamanha originalidade. É ténue o cruzamento da folk com algumas outras ideias, como o já referido rock, tão ténue que a torna única. Sobre o primeiro disco do grupo, disse-se por aqui em tempos que este era “tradição, inspiração, revolução. A música tradicional nos Mandrágora não é um fim é apenas um meio; não é o resultado, é apenas o processo para uma nova visão da música tradicional; uma visão mais criativa, mais actual.” (1); como tudo continua a fazer sentido; ou mais sentido ainda, num caminho que os Mandrágora continuam a trilhar com toda a segurança e criatividade.
“A raiz que se plantou no início, agora se fez formoso arbusto… ” (1); a plantar magia desde 1999.

som Mandrágora.


“Escarpa” – Mandrágora (Hepta Trad, 2008)

01 Candelaria
02 Picões Do Diabo
03 Baile Do Escangalhado
04 Cubo
05 Mija Velhas
06 Abaixo Esta Serra
07 Erva Moura
08 O Que Calma Vai Caindo
09 Escancaras
10 Odelouca
11 Malagrado
12 Tardo
13 Turbilhão

tipo Folk
sítio www.mandragora.com.pt
sítio www.reverbnation.com/mandragora

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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