Hugo Correia voltou à ribalta com os seus Fadomorse.
Desde logo, há uma coisa que não se pode ignorar nos Fadomorse; a cada passo, a cada disco: o efeito surpresa. “Folklore Hardcore” soa a uma paródia musical desconcertante, uma salsada sonora daquelas em que tudo o que é estilo ou forma parece ter o seu espaço; isto, brincando com pequenas peças da cultura portuguesa e do mundo. Se esta é parte da riqueza deste disco, essa exploração bem humorada mas com sentido de um ser étnico moderno, esta é também uma das suas maiores fragilidades, pensar no enorme caldeirão onde tudo parece caber; geralmente com sentido, mas nem sempre. Assim chegamos à linha ténue onde se situa para alguns este “Folklore hardcore”, uma linha que separa a indeferença do prazer.
Para estes lados o sentimento é de prazer, desde logo pelas toneladas de boa disposição que “Folklore Hardcore” oferece. Depois, por uma certa ideia de experimentação constante. Regressando ao início, e se no anterior “Popétnico” a surpresa foi noutro sentido, em “Folklore Hardcore” a trupe de Hugo Correia volta a surpreender-nos, tal a pirueta que fez brotar um disco assim, conceptual, nascido do cruzamento de múltiplas formas musicais e culturais – tendo Trás-os-Montes como base operacional. Os próprios dizem que o fazem num canto “português transmontano, português açoriano, português madeirense, português alentejano, e português capitalista” (1). Eis outra razão para a louca magia que envolve os Fadomorse, um dos projectos mais singulares e criativos da moderna música portuguesa na última década. Uma magia feita de um encontro às vezes anárquico de um sem número de vontades, ideias, formas de entender esta coisa musical. Se a fusão ainda faz algum sentido, “Folklore Hardcore” faz-lhe uma vénia, tal a forma como vozes, estilos e instrumentos se complementam numa ideia cultural única. É sempre assim, entre temas e interlúdios – ao todo são 22.
Editado em parceria pela MDParte e pela HeptaTrad, “Folklore Hardcore” recebe por aqui nota positiva; pela expressividade poética e musical e pelo arrojo em colocar de pé este estranho enredo. O que em Fadomorse não é assim uma surpresa tão grande. É imaginação.


“Folklore Hardcore” – Fadomorse (HeptaTrad, MDParte, 2008)

02 Indá Pastores
04 Tempero em extinção
06 Oriente Acidental
08 Raízes Folk
10 Qué Frô
12 Mundo Vampiro
14 Cega Fé
16 Marujos do Asfalto
17 Caxemira
19 Tombo redondo
21 Folklore hardcore
22 Puro e duro (de ouvido)

tipo Fusão
sítio fadomorse.blogspot.com
sítio www.fadomorse.net
sítio www.mdparte.com
sítio www.heptatrad.com

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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