Genericamente, é uma áudio-novela e respetiva banda-sonora. Ou, por outras palavras, a mais recente loucura de David Bruno. E já...
Um Adeus a Bernardo Sassetti
Morreu Bernardo Sassetti.
E uma morte assim custa sempre muito. Depois, não há palavras que demonstrem a enorme genialidade do compositor e pianista que ontem nos deixou. Venha a música, essa nunca morre. Mas antes disso, um texto escrito em 2005 sobre a banda sonora de “Alice”, disco que Bernardo Sassetti compôs – disco do ano para a trompa.

“Passaram 193 dias desde que Alice foi vista pela última vez.
Todos os dias Mário, o seu pai, sai de casa e repete o mesmo percurso que fez no dia em que Alice desapareceu.
A obsessão de a encontrar leva-o a instalar uma série de câmaras de vídeo que registam o movimento das ruas. No meio de todos aqueles rostos, daquela multidão anónima, Mário procura uma pista, uma ajuda, um sinal…
A dor brutal causada pela ausência de Alice transformou Mário numa pessoa diferente mas essa procura obstinada e trágica, é talvez a única forma que ele tem para continuar a acreditar que um dia Alice vai aparecer.” (1)
Está lá tudo. É absolutamente fascinante como os sons do quotidiano são utilizados para completar a música, para criar o cenário, para nos ajudar a ver a história; aquela: ouve-se a chuva, a respiração e o despertador, ouvem-se os carros, a câmara de filmar, ouvem-se as vozes da cidade, das crianças, de todo o universo de “Alice”; da cidade também.
Todo o universo está ali. Mesmo ali, radiante e arrepiante.
“Alice” – BSO Bernardo Sassetti (Trem Azul, 2005) | JAZZ | Ver e Ouvir Bernardo Sassetti