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“B Fachada” – B Fachada

Rui DinisRui Dinis

A tarefa de traçar algumas linhas sobre um qualquer disco vários meses após a sua edição, tem os seus prós e os seus contras. Aliás, já se sabe que por aqui é quase sempre assim. Não dá para ser de outra forma; é preciso vir de dentro, deixá-lo amadurecer ao mesmo tempo que se deita todas as noites ao nosso lado. Tem de fazer sentido. Tem os seus prós e o seus contras, claramente. É bom porque nos dá tempo e matéria para reflexão; é menos bom porque já se disse tanto que tudo o que se diga vai parecer apenas mais uma repetição. “B Fachada” é assim também. E no entanto, “B Fachada” foi seguramente um dos grandes discos de 2009. Quem sabe, não será um disco para recordar durante muito tempo…quem sabe?
Mas há uma coisa que me atormenta; não muito, confesso. Genericamente, terei sido dos poucos – o único? – que depois de ouvir o anterior “Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado“, também lançado em 2009, não terá literalmente endoidecido com este “B Fachada”. E isso foi um facto; continua a sê-lo.  Em todo o caso, uma coisa é absolutamente indesmentível. Se a voz e as palavras já não nos surpreendem, tanto, já quando chegamos à música, o galo toca de outra maneira. É brilhante toda a instrumentação do disco. Completa, equilibrada e harmoniosa, centrada nas guitarras e nos teclados, “B Fachada” está cheio de pequenos pormenores que lhe dão uma cor nunca vista até aqui nos discos de B Fachada. O resto, mais coisa, menos coisa, já conhecíamos; já conhecíamos o jeito baladeiro de Bernardo; já conhecíamos esta facilidade de trocar miúdos por palavras e contar histórias sobre si,  sobre os outros e sobre o resto do mundo. São grandes canções, narrativas de uma acutilância incrível. Mas isto não é uma surpresa, agora os arranjos…
Lê-se por aí também ser este o verdadeiro primeiro álbum de B Fachada, menorizando de alguma forma o quase gémeo “Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado”.  Percebe-se de alguma forma a ideia  mas é injusto. Mais cerebral, “B Fachada” é esteticamente mais escorreito, seguindo uma linha mais coerente. Não sei se é melhor ou pior, parece certamente mais sério. Não sei se é melhor se é pior, agora uma coisa é certa, é igualmente bom. E acreditando que este é o verdadeiro B Fachada, não deixaremos nunca de rejubilar. Fica apenas um grãozinho na asa; por vezes, parece que o co-produtor Jorge Cruz mora mesmo ali ao lado; muito perto. Se calhar é apenas uma impressão sem sentido.
De uma forma ou de outra, B Fachada será sempre uma das melhores coisas que aconteceu à música popular portuguesa nos últimos anos. Se no início era mais o verbo, agora sabemos que é o verbo e tudo o resto.

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capa de B Fachada
“B Fachada” – B Fachada (Edição de Autor, Mbari, 2009)

01 Responso para Maridos Transviados
02 Cantiga de Amigo
03 O Desamor
04 A Velha Europa
05 Tempo para Cantar
06 Estar à Espera ou Procurar
07 Setembro
08 O Teu Azar
09 A Bela Helena
10 Só te Falta Seres Mulher
11 Kit de Prestidigitação

género: pop
mbarimusica.blogspot.com

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.