O novo “Guitar Soli for the Moa and the Frog”, primeira edição da editora Shhpuma, oferece-nos um Filipe Felizardo a pairar por cenários mais corpóreos. É uma coisa mais física.


© Sara Rafael

Assim se introduz o novo álbum do músico guitarrista e artista plástico Filipe Felizardo. Em termos gerais, se o intrumento base não se altera, a guitarra eléctrica, já o método de construção sofre uma variação importante em “Guitar Soli for the Moa and the Frog”. Isto, por comparação com os anteriores “Ovöo” (2010) e “III = 207,8,  bII=56.3º” (2011).

Neste, há um corte quase umbilical com o continuum sonoro proporcionado pelo uso robusto do loop sobre a guitarra. Neste, a guitarra eléctrica de Filipe Felizardo ganha uma outra presença, vive com uma outra naturalidade. Livre de processamentos, há neste uma presença física mais possante, um diálogo homem/instrumento claramente mais ligado à terra. E isso é emocionante.

Depois, este novo ser orgânico abre espaço para uma outra importante componente do som de Filipe Felizardo. Importante e central: o silêncio. Há muito que não ouvia um disco onde o silêncio falasse tanto. Arriscaria a dizer que o silêncio é quase metade do que se ouve em “Guitar Soli for the Moa and the Frog”. Sim, aqui, o silêncio ouve-se. Uma metade não em tempo mas na centralidade daquela que é a mensagem transmitida por Filipe Felizardo. Em parte, são os tempos de silêncio que conferem à música de Filipe Felizardo toda a densidade dramática que se perspectiva em “Guitar Soli for the Moa and the Frog”. As pausas, as respirações, são aqui tão fundamentais como os sons, são elas que abrem espaço para a reflexão, que adensam o mistério que paira por todo o disco. É um disco em suspense.

Belíssimo.

Filipe Felizardo – “Guitar Soli for the Moa and the Frog” (shhpuma, 2012) | EXPERIMENTAL | Ouvir Filipe Felizardo
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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.