Com edição prevista para 12 de Maio, “Lost, Beat & Bop” (Freima Labs, 2014) é o EP de estreia a solo de Fulano47. Pois bem, pareceu-nos o momento certo para uma flash interview com este fulano…
Dia 12 de Maio sai o teu primeiro EP a solo, “Lost, Beat & Bop”. Dizes que este representa uma espécie de acerto de contas com Jack Kerouac. Que contas são estas?
Cruzei-me pela primeira vez com Kerouac quando li o On the Road (e mais tarde Dharma Bums, Big Sur, etc). Tenho uma inclinação natural para a estrada e para o nomadismo, e identifiquei-me imediatamente com Kerouac na forma de pensar, de sentir e de escrever. Deixei-me também inspirar pela Beat Generation em geral, enquanto movimento artístico e cultural que integrou questões marcadamente sociais sem se tornar político, e elementos profundamente espirituais sem cair na religião.
A maioria das pessoas não desconfiam sequer que foi este bando de lunáticos Zen que deu origem à contracultura dos anos 60, de forma indirecta através das suas obras e legado, e de forma mais directa através, por exemplo, da participação de Neal Cassidy — o grande companheiro de estrada de Kerouac — na viagem de autocarro liderada por Ken Kesey através dos Estados Unidos, que fez chegar pela primeira vez o LSD aos neurotransmissores expectantes de milhares de jovens americanos.
Foi também a obra literária de Kerouac que me despertou a curiosidade pelo Jazz — e em especial pelo Bebop — estilo que se foi entranhando na minha vida, e que exerceu uma grande influencia sobre os processos criativos e ambiente geral deste meu primeiro EP a solo. A vontade de integrar Kerouac no meu trabalho teve finalmente uma oportunidade de se materializar quando descobri estas gravações de leituras do On The Road e decidi utilizá-las como elemento central de uma peça musical electrónica: foi assim que surgiu “Lost, Beat & Bop“.
No passado dia 30 de abril apresentaste o disco em Lisboa, no Lounge, e dia 9 de Maio vais fazer o mesmo no Porto, no Plano B. Como correu a primeira data e o que podem esperar as pessoas que te forem ver ao Plano B?
A apresentação no Lounge correu lindamente e contou com a presença dos Quelle Dead Gazelle e do Miguel Torga, que fez o favor de vir rolar umas belas malhas comigo. Fiquei especialmente feliz por ver tantos sorrisos conhecidos e pela aceitação que as faixas do EP tiveram na pista: move!
A apresentação no Plano B — a ter lugar esta Sexta-feira dia 9 de Maio — vai ser um momento muito especial, já que se trata de uma colaboração entre os colectivos Freima e Coronado, reunindo assim sob o mesmo tecto uma série de artistas nacionais com um trabalho deveras interessante: Quelle Dead Gazelle, Lydia’s Sleep, Dwarf e Egbo (Coronado), Ramboiage, Bangkok Snobiety e Fulano47 (Freima Labs)… Abriguem-se!
Depois da apresentação no Porto, sei que segues para Aveiro e Coimbra. Como vai ser o futuro próximo de Fulano47? Expectativas?
Sim, esta semana apresento o EP em Aveiro e Coimbra, e penso que em breve também em Braga, Beja e Évora. Como sabes, para além do meu trabalho como Fulano47, sou um dos responsáveis pela plataforma cultural Viral — a cuja expansão internacional esperamos assistir nos próximos tempos — e pelo selo digital Freima Labs — que dirijo com o Cláudio Pinto e o Lucas Palmeira, e onde é agora editado este meu primeiro trabalho a solo. Sendo missão da Freima Labs promover o talento electrónico português numa multiplicidade de estilos, o próximo disco tem como protagonistas os Jesus K & the SickSickSicks, uma banda electrónica de Almada com uma assinatura sonora única.
Enquanto Fulano47, tenho já dois novos trabalhos finalizados, um dos quais será editado proximamente pela portuguesa Sui Generiz. Gosto de explorar linguagens diferentes, pelo que “Storks & Chimneys” se apresenta sob a forma de um Techno ruidoso e transgressor que nos coloca no interior de uma enorme coluna de som, algures num armazém abandonado; e “What happens in Vegas, stays in Vegas” se manifesta através do House, do Techno e do Bass — voltando a apresentar influências do Jazz — para nos transportar até ao fumarento ambiente das roletas e das mesas de Blackjack. Penso, no entanto, que há uma linha comum a todas as minhas produções, o que facilitará provavelmente a tarefa de encaixar todas estas sonoridades e conceitos num live-act digno de tal nome, projecto que espero trazer brevemente à luz do dia. [OUVIR]
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