Não há muito que inventar; se a música pode ser festa e diversão, os Kumpania Algazarra estão cheios dela para dar e vender. Não obstante de chegar a ser redutor ouvir Kumpania Algazarra em disco, com este começa-se ainda assim a sentir aquele incrível pulsar; a folia permanente que gira em volta da trupe sintrense quando por ruas, vielas e travessas, decidem fazer a festa. As vezes que os ouvi ao vivo, não os vi, tal era a multidão que os abafava. Enfim, com a Kumpania Algazarra, a world music nacional ganha um novo ás; não, um poker de ases jogado em doze jogadas de mestre. Sem stresses, sem avarias ou invenções, apenas pelo prazer de vibrar.
Mais à frente, senti também uma sensação estranha. Um sensação que começa com a afirmação de que o disco dos Kumpania Algazarra é o melhor que se pode ter, de um grupo que tem o ar fresco ou escaldante dos dias e das noites, por melhor companhia; o estranho é estar e conseguir ficar recostado no sofá enquanto desfilam as 12 jogadas de mestre desta Kumpania. É estranho, mas consegue-se.
Estes rapazes de Sintra têm o coração nos Balcãs; melhor, têm o corpo espalhado pelos quatros cantos do mundo, numa viagem incessante de descoberta e prazer. Haja alegria que este povo anda triste. Uma tristeza interminável, rasgada por uma loucura sonora que passa pelo ska, pelo reggae, pelo funk, pelas sonoridades cubanas, arábicas e latinas, pelo klezmer, pelo afrobeat, pelo…pelo…pelo…eu sei lá. É uma espécie de jogo do vale tudo, onde vale principalmente dançar, dançar bastante e sorrir. É a expressão da loucura da fusão, da confusão. O que interessa isso?
É isto o que nos diz este “Kumpania Algazarra”; depois de 4 anos de rua, o grupo de Hugo Fontaínhas – bateria, Hélder Silva – percussão, Nuno Salvado (Biris) – acórdeão, Luís Barrocas (Trinta) – guitarra, saxofone e voz, Pedro Pereira – contrabaixo, Francisco Amorim (Kiko) – trombone, Ricardo Pinto – trompete e Luís Bastolini – clarinete – com o flautista Willi Kirsch como convidado na gravação, sentiu a necessidade de passar para o recato do lar, a festa que lhes ferve nas veias. Mas não tenhamos ilusões, não é nem nunca será a mesma coisa. Este é apenas o cheirinho necessário e mais que suficiente para nos levar a sair de casa e procurar a Kumpania Algazarra num beco qualquer. Com um pouco de sorte, até os encontramos, ao vivo e a cores, com eles e nós gostamos.
Enfim, é uma longa e dispersa viagem, por tantos e tantos lados, que os lados perdem a importância. Só o resultado interessa, a boa disposição, a alegria, a capacidade de nos surpreender. São tantos os sons; às vezes ficamos com a ideia que nem eram necessárias palavras. A energia está toda no som. Está toda lá. Não restem dúvidas, esta Kumpania existe para ser vista e ouvida ao vivo; não sendo possível, temos o disco o que também é muito bom.

som Kumpania Algazarra.


“Kumpania Algazarra” – Kumpania Algazarra (Edição de Autor, 2008)

01 Almighty Love
02 Donde la vida va
03 Supercali
04 Libérez le monde
05 Maribor
06 Gipsy Reggae
07 Just one step
08 Skabicine
09 Naygeri
10 Pekarna
11 Wild Zone
12 Oh cidade

tipo World
sítio kumpaniaalgazarra.no.sapo.pt

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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