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OLHARES|”Nothing’s Ever Good Enough” – Electric Willow

Rui DinisRui Dinis

São apenas canções…excelente estreia.”; dizia-se por aqui em Fevereiro de 2007 em referência ao primeiro álbum dos Electric Willow, “Mood Swing” (Transporte de Animais Vivos, 2006). Ano e meio depois, um EP depois – lançado já em 2008 (“EP II“, Honeysound, 2008) – e após participarem em várias compilações, continuam a ser acima de tudo, apenas canções. O que não é pouco.
Claro que reduzir a arte dos Electric Willow à simples expressão de que ‘são canções’, se torna inequivocamente redutor. Hoje, são canções ainda mais vividas, são coisas que só o tempo e o pó da estrada podem deixar perceber. Os homens são os mesmos – Cláudio Mateus (voz e guitarra), Adílio Sousa (baixo) e Pedro Geraldo (bateria), mas o tempo, esse, tornou-os mais duros, mais apaixonados, mais rancorosos, mais desiludidos, enfim, mais vividos. Cláudio Mateus, o compositor, o porta-voz, interpreta com crença, naquele seu jeito falado-cantado, o sentido que esta vida leva. Bem perto de nós.
O novo disco chama-se “Nothing’s Ever Good Enough” e é um novo capítulo dessa viagem diária de sensações que é o dia-a-dia. Uma viagem naquele jeito feito de um equilíbrio por quem se perde por um gosto acústico e aquele desejo louco do eléctrico. Este é um disco sereno. Não só pelo que realmente é, mas pelo que transmite. Como diz Filipe Miranda sobre o mesmo, este é um “produto de uma química perfeita, uma harmonia eloquente na qual gostamos de nos envolver“. E se nos envolve…
De resto, tendo percebido já que são canções envoltas por letras que se querem realistas, não sabíamos ainda que são canções envolvidas por uma harmonia que as atravessa. Agora já sabemos. E não é só a presença dos coros em “joy is brief” ou “love of the lonely kind”, por exemplo, é também a presença de outros convidados como Nuno Fernandes (guitarra eléctrica), Daniela Cardoso (violino), Daniel Gonçalves (trompete), Rui Gonçalves (sax alto e tenor) e André Simões (trombone), que lhe dão aquela outra característica: a melodia. Intensamente melódico, esta é a cama perfeita para as palavras às vezes cansadas de Cláudio Mateus se deitarem; o enquadramento perfeito para uma peça feita de imagens quase reais, porque no fundo, as “palavras não chegariam nunca para explicar, é preciso mesmo perceber a linguagem humana que faz correr grandes melodias como estas. Porque é disso que se trata: de uma linguagem, acessível apenas para quem o amor e a causa são de facto o que nos põe a andar por aqui” (Filipe Miranda).
Sem reviravoltas face ao trabalho anterior – em termos estéticos, a sua maior consistência e riqueza dos arranjos – veja-se o devaneio que nos é oferecido pelos sopros em “moonsun girl”, faz de “Nothing’s Ever Good Enough” um disco a ouvir com atenção, com muita atenção, especialmente nos pormenores. Pormenores simples, coisas poucas que transformam este jorrar de emoções em canções que se absorvem com deleite, proximidade, como se alguém nos soprasse ao ouvido toda a intimidade que o artista tem para desvendar. São essas emoções crescidas com o amor e com todas as coisas que o rodeiam, que aqui nos são oferecidas sob a forma de canções. Canções com uma maturidade indiscutivelmente maior; tudo isto se vê em “Nothing’s Ever Good Enough”, claro.

som Electric Willow

Capa de Nothing's Ever Good Enough
“Nothing’s Ever Good Enough” – Electric Willow (Honeysound, 2008)

01 to get across
02 bad temper’s slave (part 2)
03 cease the falling
04 goat
05 joy is brief
06 love of the lonely kind
07 moonsun girl
08 palm’s lane lullabye
09 spark

tipo Folk/Rock
sítio www.honeysound.com

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.