CONCERTOS“Festival Tejo 2004” – Valada|Cartaxo

Sábado, 24 de Julho.
Rumo a Valada, o segundo dia do “Festival Tejo”, foi de modo geral dedicado ao universo pop nas suas mais diversas correntes.
Pop-Rock, Disco, linhas mais alternativas, ontem jogaram-se 3 bons duelos sonoros. À boa maneira das peladinhas futebolísticas de antigamente, a Trompa simulou o resultado de 3 jogos do tipo “muda aos 5 e acaba aos 10”, eis os resultados:

-Duelo Pop-
Clã 10 – Mesa 3
-Duelo Disco-
Plaza 10 – Loto 8
-Duelo Alternativo-
Hipnótica 10 – Spelling Nadja 7

Em resumo…

Spelling Nadja

Não fora uns poucos “madrugadores” e os Spelling Nadja teriam tocado para os mosquitos do Tejo. Às 21h00 o recinto estava ainda despido, quase nu.
A coisa foi aquecendo, embalada pela extraordinária competência vocal de Nádia Sousa e pelos instrumentos do resto da banda. Foi frio, era cedo, a música dos Spelling Nadja, intensa como é, pede calor, pede a aproximação do público e ontem…este esteve longe.
Há na música dos Spelling Nadja toda uma cuidada poesia que apaixona, mas há igualmente que a adequar a espaços amplos e livres, espaços de festival. A música dos Spelling Nadja é nitidamente de sala, tal a cumplicidade que procura criar com o público.
Tendo como pano de fundo o álbum de estreia, “Winter Days”, numa linha de um pop-rock alternativo, o concerto foi decorrendo positivamente sem grandes percalços, mas também sem grande público para os ver. O que é pena.

Loto

Ainda com pouco público na área, os Loto foram a primeira banda a subir ao palco maior. Entraram, puxaram pelo público, tentaram dar festa mas foi difícil quebrar o gelo. A banda bem foi tentando mas a coisa estava morna, muito morna mesmo. O concerto só aqueceu definitivamente quando se ouviram “back to discos” (como é óbvio) e “the boy”, levando finalmente o ainda pouco público a arrastar os pés de um lado para o outro de um modo mais frenético (sem exageros!).
Foi um concerto agradável, com a banda a dar o litro mas a ficar um pouco aquém da festa que deveria proporcionar.

Hipnótica

Não foi um concerto fácil. Tinha tudo para ser um grande concerto, perfeito (pela competência da banda ainda que num espaço pouco adequado), mas não o foi.
O concerto dos Hipnótica foi um autêntico “desastre técnico”: colunas a falhar, a voz mal feita, o contrabaixo sem som, obrigando a banda a inventar…bem, foi incrível.
Mas valeu? valeu!, o pouco que se pôde ouvir (é pena, merecia muito mais) mostrou-nos uma banda fantástica, bem acima da média. Mostrou-nos uma banda a arriscar por caminhos em que muito poucos arriscam e muito menos ao vivo. Assente basicamente no último “Reconciliation”, com um excelente João Branco Kyron na linha da frente, os Hipnótica deram vida a um pequeno grande momento, um pequeno grande espectáculo onde o contrabaixo e a harpa deram um toque especial. Foi algo diferente.
Os Hipnótica não mereciam tantos azares técnicos, porque em termos de espectáculo, os Hipnótica ganharam a noite. O público percebeu e gostou.

Mesa

Não foi a primeira vez que vi Mesa ao vivo.
Tenho o álbum e gosto dele, mas este concerto dos Mesa foi triste. Sem chama, sem alegria, como quem se limita a debitar os temas da moda mas que interpretados assim, perdem toda a piada. Ontem perderam, totalmente.
Foi o concerto mais fraco da noite. Foi realmente um pouco aborrecido e nem a voz Mónica Ferraz pareceu estar muito inspirada.

Plaza

Deram um concerto acertado. Forte.
Foi um concerto bem mais coerente que o dos Loto no que se refere ao objectivo de colocar o público a saltar. Nisso, os Plaza estiveram bem. Os singles da banda, “(out) on the radio” e o novo “in fiction” para isso contribuiram.
Ainda que entenda que tenham “vencido” nitidamente os Loto, já que têm um som mais adulto, melhor construído, muito mais experiente, ao vivo o som dos Plaza é muito mais plastificado, custa até a crer que alguém esteja a tocar o que quer que seja. Às vezes até na voz custa a crer. Dão espectáculo? dão e venceram os Loto no duelo disco da noite.

Clã

Muito se tem falado na Trompa nos últimos tempos acerca dos Clã. Sempre positivamente e ontem, mais uma vez, os Clã venceram a noite. Claramente.
Não era difícil, os Clã são como que de outro campeonato, um pouco mais à frente, muito mais à frente que a concorrência. Com o concerto habitual, Manuela Azevedo voltou a impôr toda a sua competência para encantar e arrasar. Ontem, mais uma vez, os Clã arrasaram.
Foi incrível a sessão de mosh com o “dançar na corda bamba” (sim mosh, foi de doidos). O resto é história, harmonia, música num discorrer de vários temas, de vários álbuns, interpretados por extraordinários músicos e por uma voz e presença fantásticas.

Sítio: www.festivaltejo.com

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.