Há muito que o hip-hop nacional deixou as grandes cidades – a norte e a sul – e os seus subúrbios – sem esquecer a margem sul, naturalmente. O movimento hip-hop é hoje uma corrente cultural global, uma forma de expressão que encontrou também no resto do país múltiplas razões para existir – Suarez ajuda a percebê-lo. Há uma história de década e meia na Covilhã; no Algarve, a cidade de Quarteira há muito que está na vanguarda; ao centro, o eixo Coimbra-Aveiro tem igualmente feito sentir-se, enquanto que no Alentejo, Beja aparece invariavelmente como o grande centro de animação do movimento. Nesta, não é a alheia a figura de Suarez – mesmo nada – e da Covil Produções.
Adiante; depois de participar em múltiplos projectos, o produtor e MC bejense, nascido em 1984, define-se finalmente em nome próprio. Não é uma surpresa total – para quem já conhecia o seu trabalho, é a surpresa que se esperava de quem começou rappar aos 15 anos – corria o ano de 1999. Excelente registo! Porquê? Genericamente porque à acutilância da mensagem, Suarez adiciona uma componente musical de grande bom gosto. Admita-se; impressiona o cuidado trabalho de produção deste “Visão de Um Estranho”.
A poesia. Em “Visão de Um Estranho” tudo é mensagem; as letras carregam toda a amargura de uma vida, ainda curta é certo, mas suficiente para olhar com azedume, políticos, editoras, até o próprio movimento. Para o bem e para o mal, é um outro olhar, um olhar distante, um olhar interior – um olhar do interior. As letras são agrestes, cheias de revolta, cuspidas num flow intratável e bem adornadas pelo excelente som que se ouve. Duro, frio, politicamente interventivo, socialmente activo, “Visão de Um Estranho” marca decisivamente uma posição. Está marcada;
A Música. Com uma história iniciada no Movimento Clandestino, Suarez – e os seus manos, tem no seu disco de estreia uma pequena pérola sonora. Puro espaço de criação; o trabalho do produtor acentua-se num esforço de fuga aos clichés habituais da produção hip-hop. Há criatividade; entre o beat marcado e o sample costumeiro, também lá está a melodia, o pormenor, a pequena coisa que faz a diferença e deixa a marca do artista. Sente-se o grande equilíbrio que existe entre todas as partes que constituem o fundo musical de “Visão de Um Estranho”. É o trabalho de músico que ressalta desta visão…a visão de uma realidade. Ainda bem.

som Ouvir alguns sons de Suarez.

capa de Visão de Um Estranho
“Visão de Um Estranho” – Suarez (Covil Produções, 2007)

01 Introvisão
02 Obrigado
03 Sangue Novo
04 2006 Quilogramas de cultura
05 Não somos músicos
06 Editoras
07 Poligamia de bens
08 Motivo
09 Cota Amílcar
10 (R)evolução
11 Teoria dos três dedos
12 S.U.A.R.E.Z.
13 Não Mudamos
14 Álbum de Fotos
15 Mano Xico
16 Pérolas Brilhantes
17 Luís

tipo Hip-Hop
sítio covil-productions.blogspot.com
sítio www.myspace.com/covilproducoesestudios

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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