Foi aquele deambular constante. De espaço em espaço, buscando a festa, junto segue um rápido olhar sobre uma parte do que se passou no Avante no último sábado:
Anti-Clockwise
Basicamente, foi um excelente início de tarde aquele a que pudemos assistir no palco 25 de Abril. Os responsáveis por este forte arranque foram os lisboetas Anti-Clockwise, poderosos na forma como explodiram e inundaram o espaço com seu enérgico punk-rock e mais rock. Afinado e alinhado; são muitos anos!
Chullage
Já se sabe – há muito – que com Chullage o rap não é feito de palavras e rimas de circunstância. Nunca é; o forte carácter de intervenção político-social das palavras de Chullage conferem-lhe um estatuto central na cena hip-hop nacional. No sábado, com a sua banda suporte e as duas vozes de apoio, o som do MC da Arrentela ganhou decididamente um outro groove. Bom; com uma excelente skazada lá mais para o fim…
Deolinda
Decididamente, um dos momentos altos do dia – com alguma surpresa, até para os músicos. O facto é que da voz e perfomance de Ana Bacalhau e da astúcia musical do trio que a acompanha (Zé Pedro Leitão – contrabaixo, Pedro Martins e Luís Martins – guitarras clássicas), nasceu um projecto original, inserido no campo da música popular portuguesa. Simplificando, são canções que contam estórias da vida dessa mulher chamada Deolinda. Grande momento de empatia com o púbico.
Brigada Vitor Jara
O regresso da Brigada Victor Jara à Festa – numa espécie de hábito. Este ano, a Festa homenageou Adriano Correia de Oliveira, ficando a Brigada com a missão de preparar a mais que merecida homenagem. Neste Tributo a Adriano Correia de Oliveira, a Brigada recebeu ainda a visita de Manuel Freire – rouco e de cábula em punho. Foi um momento bonito, momento de recordar belas peças como “Tejo que Levas as Águas”. Enfim, um momento de recordar Adriano Correia de Oliveira musicado pela grande Brigada Victor Jara.
Telectu
Outra presença assídua na festa do Avante, os Telectu. Assiduidade esta manifestada com uma variação do seu espectáculo experimentalista e improvisado. Este ano, os convidados foram Walter Pratti, por detrás dos seus dois laptops e Han Bennink, um baterista de outro planeta, que por acaso também toca bateria. Um espectáculo vivo de improviso com um baterista que é um espectáculo dentro do próprio espectáculo.
Tora Tora Big Band
Não tendo dado para apanhar o comboio de início, mesmo assim, pelo que se viu, a festa está e estará sempre garantida com a Tora Tora Big Band. Com um som que se espalha pelo mundo inteiro, a Big Band garantiu aos que estiveram em frente ao palco 25 de Abril bons momentos sonoros, de muito calor e efusiva energia. Excelente momento de afrobeat-funk-reggae-drum’n bass e coisa e tal que apareça ao caminho.
Cristina Branco
Na Festa, Cristina Branco cantou José Afonso – como Jacinta faria no dia seguinte. Secundada por músicos de elite, Cristina Branco discorreu sobre a música do mestre Zeca Afonso, recolhendo, naturalmente, os aplausos da multidão que esperou para a ouvir. Fiquei com a ideia que à excelência do produto, faltou alguma dinâmica, algum calor…
Conceito: Pele
Boa presença da banda tripeira no palco dos Novos Valores. Com uma presença forte em palco, a banda de Luís Teixeira – voz, Orlando Rocha – guitarra, Rita Leão – baixo e António Torres – bateria, parece bem mais acutilante ao vivo; longe de algumas das suas fortes influências, os Conceito: Pele trouxeram ao Avante um rock poderoso, duro e cantado em bom português. A seguir…
Sexteto Mário Barreiros
Naturalmente, perfeito. Assente no recente álbum “Dedadas”, o Sexteto Mário Barreiros soube explorar, com facilidade, toda a técnica dos músicos que o compõe. Neste, um destaque especial para o peso do trio de saxofones, ao qual se junta o piano, o contrabaixo do mano Barreiros e claro, a serena bateria de Mário Barreiros. Tivemos jazz…cool.
Carlos Barretto
Carlos Barretto “In Loko”; foi um excelente momento, merecidamente aclamado no final do concerto. Acompanhado neste projecto pelos comparsas de sempre, José Salgueiro na bateria e Mário Delgado na guitarra, Carlos Barretto trouxe também para o seu lado o fantástico Bernardo Sassetti no Fender Rhodes, João Moreira no trompete e Sebastian Sheriff nas percussões. No fim, fica uma ideia simples: “In Loko” é um brilhante e estimulante projecto de fusão do jazz com o rock e a electrónica. Fantásticas sensações…sobre a relva seca do auditório 1º de Maio.
Jesus, The Misunderstood
Por fim, no acanhado palco do Café Concerto de Lisboa, esteve o quinteto Jesus, The Misunderstood. Não terá sido o concerto desejado pelo grupo – e por algum do público, dado os problemas de espaço, de som – os problemas de monição que nunca se resolveram – e do diabo a sete. No entanto, dadas as circunstâncias – que nunca são muito interessantes neste palco, o grupo conseguiu sacar um bom par de momentos com o seu característico indie folk, bem sustentado nessa figura misteriosa do Luís – não tem mistério algum, é Luís Nunes, voz, teclas e guitarras dos Jesus, The Misunderstood.