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OLHARES|"Almadrava" – Marenostrum

Rui DinisRui Dinis

almadrava ou almadraba – s. f., armação de pesca de atum;
pescaria do mesmo;
lugar onde se pesca ou onde se reúnem os pescadores de atum.
(Fonte: www.priberam.pt)

Esta é a fonte de evocação que ginga jubilosamente por todo o disco. Ginga, digo bem; depois de “Estoy em Santa” de 2001, “Almadrava” é o segundo disco dos algarvios Marenostrum e é ‘apenas’ mais uma das pequenas pérolas da música de cariz tradicional nascidas em Portugal em 2005. Oriundos do sotavento algarvio, Tavira e já com mais de 10 anos de carreira – fundados em 1994 – os Marenostrum (José Francisco – guitarra acústica e voz principal, Janaca – bateria, percursão e coros e Paulo Machado baixo eléctrico, acordeão e coros) oferecem-nos um disco surpreendentemente feliz…ou talvez não, surpreedente para quem se deixar apanhar desprevenido. Não deixem, pois a festa vai começar…
São já mais de 10 anos de dança, paixão, alegria e boa disposição; “Almadrava” corre inúmeras influências que se vão entrecruzando num equilíbrio sonoro perfeito, sentindo nós crescer um disco especial, apaixonante e cativante; um daqueles discos que quanto mais se ouvem mais se querem ouvir. Com letras que versam quase sempre as recordações da dura faina marítima de outros tempos, é também na musicalidade encantadora que enche todo o disco que reside toda a sua magia – toda a sua energia. Cruzam-se sonoridades árabes de tez magrebina, outras almas de Cabo Verde, estonteantes ritmos Klezmer (na boa tradição judaíca do centro da Eurora), sem esquecer o preciso sopro das américas; no fim, o corridinho e o baile mandado dão a cor algarvia e portuguesa que faltava. Nisto, o guitarrista da Guiné Conakri Mamadi, oferece a sua africana guitarra em “Fado da Ilha” e “Baile Mandado” assim como a caboverdiana Maria Alice nos convence, facilmente, em “Nha Rosa”. Instrumentalmente rico, a forma como a guitarra acústica, o bandolim, a bateria, a percussão, o acordeão, o baixo eléctrico ou o trombone convivem nesta festa – e a criam, contribue significativamente para um disco incrivelmente melodioso, poeticamente cheio e risonho.
É na simplicidade da comunhão gerada em redor de toda esta amálgama cultural feita de tacto e bom gosto, que “Almadrava” se torna num disco tradicional ‘apenas’ imperdível; de produção cuidada, “Almadrava” é também um disco pop, tal a forma como abre os seus braços ao povo, a quem os quiser ouvir…haja vontade!
O disco teve produção de Nuno Faria, Fernando Abrantes e dos próprios Marenostrum e há muito que anda por aí…
A ouvir, rapidamente…


“Almadrava” – Marenostrum (2005/Som Livre/Condado Azul)

01 Peru branco (cantiga das mentiras)…
02 Muxama a…
03 Fado da ilha…
04 Rasmalhada…
05 Nha rosa…
06 Freylekchs fun L.A. …
07 Mandado (vira a chata)…
08 Oxalá…
09 Almadrava…
10 Blimundo…
11 Roaz…

Tradicional
barbreiven.no.sapo.pt/marenostrum

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.