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Olhar “Humanos Abençoados e Outros Contos” de Jorge Ferraz Trio

Rui DinisRui Dinis

A música de Jorge Ferraz nunca foi de embate fácil; nunca foi feita para aproximações simplistas ao mainstream. Corra-se Bye-Bye Lolita Girl, Santa Maria Gasolina em Teu Ventre!, God Speed My Aeroplane, God Spirou, Muad’Dib Off Distortion ou Fatimah X, entre outros, e não será difícil perceber que Jorge Ferraz nunca seguiu uma linha de orientação muito convencional. Não a seguiu antes, não a seguiu com o álbum anterior,  “África Mecânica de Metal” (Zounds, 2008) e não a seguiu agora. Há no entanto uma outra linha que une dois pontos essenciais do processo criativo de Jorge Ferraz; antes, durante e agora, sempre em evolução. É uma linha que une a guitarra e todo o trabalho exploratório realizado em seu redor e a electrónica em geral. É, genericamente,  sobre estes dois pólos que Jorge Ferraz constrói a sua música; hoje, mais do que nunca.
Tal como o anterior, também este “Humanos Abençoados e Outros Contos” não é um produto de fácil e instantânea assimilação. Não só pela sua complexidade intrínseca mas também por um certo desconforto que causa a sua difícil catalogação. Bem-vindo desconforto. Um desconforto fruto de um certo desconcerto, tal a força e vontade com que o autor constrói e desconstrói a sua música, tema após tema. Um desconforto não raras vezes fruto de uma ansiedade sentida durante a espera pelo capítulo seguinte. É um disco estruturado e polirrítmico no olhar imagético sobre uma vida que é ela própria um desconcerto. Desconcertante na forma como cobre a base rock numa envolvente camada de electrónica. Parecem experiências de um pop futurista.
E também há palavras, a poesia. Mesmo que às vezes as vozes pareçam estranhas num corpo que pede quase sempre um forte suporte instrumental. Parecem. Apenas isso. O resultado é genericamente positivo. Saliente-se aqui o papel das vozes de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), César Zembla (The Great Lesbian Show) e Nuno Moura (poeta autor de “Calendário das Dificuldades Diárias” e de ”Nova Asmática Portuguesa”) – delicioso “Demolidores de Coração”.
Poesia e emoção num cenário de luzes várias. É o que se ouve nos 12 temas que compõem este álbum – 8 inéditos e 4 reinvenções de temas antigos de Jorge Ferraz. Na companhia de Jorge Ferraz (guitarras, efeitos especiais, gravações e programações de sequenciadores, poemas e poemas-frase), estão Sapo (pratos acústicos e percussão electrónica) e José Ferreira (guitarras e efeitos especiais).
Uma experiência que se aconselha, claro.

Ouvir Jorge Ferraz

capa de Humanos Abençoados e Outros Contos
“Humanos Abençoados e Outros Contos” – Jorge Ferraz Trio (Presente, 2010)

01 Liga Magrebe Rosa
02 Borboletas sobre Dunquerque
03 Latin Dark Fuzz
04 Maria Rita
05 Demolidores de Coração
06 Mediterrâneo que Corta
07 Administrative Institute goes to sleep
08 Ressoar e Rancor
09 Trux Loose
10 O universo de um Stalker na casa da Mulher Nua
11 SpeedLow
12 El Pasao

género: alternativo
www.filmebase.pt/Presente

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.