Há nestes fados um descaramento na abordagem do prazer que me parece próprio de esquerda. O meu coração bate à esquerda e eu acho que ser de esquerda inclui estar sempre preocupado em ouvir o coração. Não quero com isto dizer que as pessoas de direita são más, que não são sensíveis. Mas nunca num discurso de direita achei a preocupação da defesa de valores como o direito ao prazer.
Ao que o jornalista retorquiu: “O Hedonismo é de esquerda?”
(risos) Percebo a provocação. Mas não me refiro ao prazer pelo prazer, como fim em si mesmo. Falo do direito ao prazer e da expressão desse direito, dessa liberdade essencial. Sinto que a direita não valoriza essa liberdade. Acho aliás que as ideologias de direita têm poucas preocupações com a arte. Tirando o fascismo, que tinha forte dimensão estética…
E continua…respondendo à provocação de que “O fado sempre foi acarinhado pelo lado mais conservador da sociedade portuguesa…” disse:
Porque não incomodava, não questionava a ordem instalada. De resto, é uma expressão emocional extrema e intensa que não é própria das classes mais altas e conservadoras…
Verdadeiramente incomum esta abordagem da política, do prazer e da forma como estes se relacionam, ainda mais numa entrevista de cariz musical; isto, atendendo especialmente ao arrojo e à controvérsia de algumas das afirmações efectuadas. Muito curioso…e frontal.
> Aldina Duarte