Simplesmente curioso – até delicioso pela abordagem, pela polémica – o rumo que tomou a certo momento a conversa entre Aldina Duarte e João Pedro Oliveira, em entrevista para o novo suplemento do Diário Notícias – 6ª. O tema circulava em volta da dimensão política do novo disco de Aldina Duarte – “Crua” – e a certo momento, ao responder sobre onde se sentia tal dimensão, referiu:

Há nestes fados um descaramento na abordagem do prazer que me parece próprio de esquerda. O meu coração bate à esquerda e eu acho que ser de esquerda inclui estar sempre preocupado em ouvir o coração. Não quero com isto dizer que as pessoas de direita são más, que não são sensíveis. Mas nunca num discurso de direita achei a preocupação da defesa de valores como o direito ao prazer.

Ao que o jornalista retorquiu: “O Hedonismo é de esquerda?”

(risos) Percebo a provocação. Mas não me refiro ao prazer pelo prazer, como fim em si mesmo. Falo do direito ao prazer e da expressão desse direito, dessa liberdade essencial. Sinto que a direita não valoriza essa liberdade. Acho aliás que as ideologias de direita têm poucas preocupações com a arte. Tirando o fascismo, que tinha forte dimensão estética…

E continua…respondendo à provocação de que “O fado sempre foi acarinhado pelo lado mais conservador da sociedade portuguesa…” disse:

Porque não incomodava, não questionava a ordem instalada. De resto, é uma expressão emocional extrema e intensa que não é própria das classes mais altas e conservadoras…

(fonte:DN/6ª, 20 Janeiro 2006, pág.18)

Verdadeiramente incomum esta abordagem da política, do prazer e da forma como estes se relacionam, ainda mais numa entrevista de cariz musical; isto, atendendo especialmente ao arrojo e à controvérsia de algumas das afirmações efectuadas. Muito curioso…e frontal.


> Aldina Duarte

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.