Se a música pode ser felicidade, “Espaços” poderia bem ser a sua razão. Este é mais um daqueles discos mais ou menos perdidos…mais ou menos esquecidos, escondidos pelo tempo. Grande.
Projecto de um trio composto por José Peixoto (guitarra e baixo) – principal compositor do mesmo, Paulo Curado (flauta, saxofone soprano e tenor) e José Martins (sintetizadores e percussão) com Carlos Zíngaro (violino) como convidado – de luxo, os Shish são um projecto fundamental com um disco fundamental na história da música portuguesa…com a música instrumental em cima do palco, ao rubro. O disco foi gravado no Angel Studio 2, em Lisboa, nos dias 2, 4 e 9 de Março de 1987. José Fortes gravou e misturou, juntamente com os Shish.
“Espaços” é praticamente brilhante, também podia dizer ‘absolutamente’, na forma como algum do rock mais clássico destila momentos à frente e rapidamente num corpo do mais puro jazz, quente, louco quase free; absoluto como momentos à frente, outra vez, rapidamente, não se coíbe de testar toda uma veia experimental, torrente interminável de puro prazer. Tudo num espaço só. Com duas peças nos 8 minutos e uma nos 10, “Espaços” é isso mesmo, área de libertação pura, espaço de divagação e devaneio absolutamente electrizante…quase todo assim, do princípio ao fim. Feito de jogos instrumentais entrecruzados numa aventura de recreação e de descoberta, “Espaços” é um disco que rasga horizontes – ou rasgou. Novos espaços.
Quase vinte anos se passaram e ainda fundamental; nem percebo porque não nos lembramos mais vezes dele.
Nove quase dez.

Ouvir dois sons de “Espaços”.


“Espaços” – Shish (1987)

01 Espaços
02 Turbilhao
03 Voo
04 Voltas
05 Cadegadum
06 Hesitaçao
07 Quinta das torrinhas

Jazz/Rock/Experimental

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.