Vão ser quatro dias com muito, muito pouco tempo para bloguices, vai daí, sai uma recordação…há um ano atrás, foi exactamente assim:
T: Que cores tem a música dos Bicho de 7 Cabeças?
B7C: Independentemente da perspectiva e do ângulo de incidência da luz, e segundo as diversas lendas recolhidas um pouco por todo o país, tudo leva a crer que o Bicho não será monocromático como a maioria dos bichos mitológicos. Se atendermos à lenda recolhida em Oximoro-o-velho, podemos ficar mais esclarecidos:
“… e então veio um ser com vários homens de altura, como um clarão, comer a minha chouriça…”
Ou noutra passagem da mesma lenda:
“… quando me preparava para dar a primeira grafada na minha deliciosa chouriça, o lagarto do bicho, usurpou-a e abalou-se com as suas sete cabeleiras ao vento a papar o meu belo enchido…”
“Clarão” poderá aqui significar brilho, assim como “lagarto”, será uma alusão à sua multiplicidade de cores. Estaremos perante um ser multicolor e brilhante? Uma segunda lenda antiquíssima, contada pelas gentes de Escárnio de Cima vem ao encontro desta ideia:
“…se apanho aquele safardana multicolor e brilhante do bicho de 7 cabeças que me devorou novamente a chouriça, ponho um homem com chapéu alto e um casaco de abas e um saco quadrado atrás dele!”
Claro que a dúvida cromática nesta lenda fica completamente ensombrada pela estranha alusão ao “homem com chapéu alto e um casaco de abas e um saco quadrado”, que para alguns especialistas poderá tratar-se de um cobrador do fraque ou de um homem de aspecto muito ridículo.
T: Qual o sabor da música dos Bicho de 7 Cabeças?
B7C: Numa análise profunda aos mais de 15 mil depoimentos registados sobre avistamentos do bicho de 7 cabeças, há dois que chamo a vossa máxima atenção. São ambos de duas mulheres, a primeira de Limiares da Beira:
“…enchi-me de coragem e disse cá para comigo: Maria Alice, não vais deixar que um monstro qualquer te leve as pantufas que os teus queridos sobrinhos te ofereceram pelo Natal… e pumba, atirei-me a ele. Mordi-lhe uma coxa. Sabia a pato. Consegui reaver as pantufas mas o magano levou-me a dentadura presa na coxa…”
A segunda mulher de Profilaxia do Ribatejo:
“… foi uma coisa de segundos, vi uma enorme sombra na parede e nem vi quem era, virei-me e atirei-me a ele. Na altura não tinha dentes e quis filá-lo com as gengivas e foi aí que aconteceu o milagre que atribuo à Nossa Meia Senhora, quando de repente me aparecem na boca os dentes de uma dentadura. Mordi-o e soube-me a pato…”
Ambos os depoimentos coincidem no sabor a pato do bicho de 7 cabeças. De acordo com recentes teorias sobre o sabor de famosas figuras não reais, existe um consenso a que sabem todas a pato. Excepto o pato Donald que à luz das novas teorias, sabe a arroz doce.
T: Que sonoridade tem a música dos Bicho de 7 Cabeças?
B7C: Um obscuro padre do Sec. XV escreveu um livro intitulado “Sons de diferentes monstros horríveis quando atirados a um poço – princípios de música” e enumerou as suas diversas experiências:
“…bicho unicéfalo – (seres só com uma cabeça) – nota dó
bicho bicéfalo – nota ré sustenida
bicho tricéfalo – nota Si bemol
bicho de 4 cabeças – nota Ré sustenida
bicho de 5 cabeças – nota Fá
bicho de 6 cabeças – nota Mi
bicho de 7 cabeças – Nota Lá…”
Pretendia com isto ensinar os princípios da música às crianças das escolas eclesiásticas mas o seu método nunca viria a ser implementado. Ele próprio acabou por provar que os padres caem aos poços na tonalidade de Sol.
T: O que se sente quando se toca a música dos Bicho de 7 Cabeças?
B7C: Durante muitos anos, em várias aldeias da região do Ultratejo, existia a crença de que quem tocasse num bicho de 7 cabeças durante a hora de almoço, via os braços mirrarem e no seu lugar cresceriam pessoas irritantes que constantemente o importunariam com perguntas maçadoras e descabidas sobre coisas sem interesse nenhum. Um desses casos é relatado por um ancião de uma dessas aldeias:
“…Era um rapaz bonito, filho de boa gente, sei lá. Mas tinha cá um defeito… era muito chato! Estava sempre a desdenhar de tudo e de todos. Ninguém gostava dele. Além disso era do contra. Diziam-lhe não e ele fazia sim. Um dia andava um bicho de 7 cabeças na aldeia e os pais disseram-lhe “tu vê lá! Se te aparecer o bicho olha para o chão e vem para casa de mãos nos bolsos” Mas ele, Tá quieto! O bicho apareceu-lhe à hora do almoço e ele começou logo a desdenhar do animal. Que as cabeças não eram assim! A testa mais alta devia estar numa ponta, numa escadinha de testas até à mais pequena! Que ele não tinha medo de lhe tocar (e nisto, toca-o mesmo) porque uma vez tinha agarrado um lacrau e os lacraus em latim chamam-se Rhopalurus Thorell… bem uma coisa muito desagradável! Estava ele nesta converseta com o bicho, começam-lhe a sumir-se os braços. Ele continuou o ronhónhó: isto não é nada, ainda bem porque assim deixo de roer as unhas e tal e tal e tal. E começam a crescer dois pequenos homenzinhos, um em cada ombro, cada um com a sua conversa aborrecida. Podem imaginar… O bicho escapou-se logo e ficou o rapaz com os seus dois braços à conversa. De tal ordem foi a conversa, que os homens quiseram que os amputassem do rapaz. Dá para ver o chato que ele era! O rapaz ficou sem braços e os homens irritantes ainda hoje costumam aparecer às moças virgens em noites de lua Cheia para as entediar com as suas conversas maçadoras…”
São conhecidas outras versões deste conto de moral duvidosa com algumas variações nas personagens que aparecem nos braços do rapaz (na Finlândia são duas gralhas, na Bulgária, os braços são substituídos por um coro feminino de folclore Búlgaro e em Espanha, crescem jovens com o desejo de editar um pasquim sobre musica e maçar os artistas com 5 perguntas descabidas).
T: Que fragrâncias exalam do som dos Bicho de 7 Cabeças?
B7C: Muito se tem debatido sobre qual é o verdadeiro cheiro do bicho de 7 cabeças. Se por um lado há quem defenda que durante o período do cio, a fêmea usa perfumes para atrair o macho, outros há que defendem que estes seres jamais se reproduziriam com 14 cabeças para pensar. Uma coisa é certa, devido à sua anatomia, o bicho de 7 cabeças, poderá exalar um forte odor a champô. Portanto não são de todo exageradas as seguintes narrações:
“…antes de me ter borrado de medo já sentia no ar a frescura suave da alfazema…”
Adérito Lilás, habitante de Vila Nova do Mesmo
“…e foi nesse instante que fui sacudido violentamente. Preso pelos pés, o meu corpo balançava com fortes safanões e enquanto a dor trespassava os meus ossos, uma adocicada e leve brisa de nutritivos frutos e cevada deixava no meu olfacto imagens de campos floridos e rios de água transparente e luzidia ao sol da manhã…”
Alberto Fuligem, habitante de Miranada.
B7C: Tomámos a liberdade de fazer esta pergunta a nós próprios: Terá o bicho de 7 cabeças um sexto sentido?
B7C: Não! Nunca! Que disparate de pergunta!
::Ano de formação: 2004;
::Localidade: Damaia, Amadora, Lisboa;
::Composição:
– Artur Serra (voz e composições), Pedro A. Martins (voz, guitarra e composições), Patrícia Martins (acordeão), Carlos Penedo (voz e guitarra clássica), Luís Fernandes (percussões), Rogério Medeiros (violoncelo) e Luís José Martins (guitarra e voz);
::Discografia:
– A preparar primeiro álbum ;
Para ouvir o que se passa na toca do bicho.
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