E chegámos a 2007. Rodrigo Amado voltava a encontrar velhos amigos Carlos Zíngaro e Ken Filiano. Juntou também Tomas Ulrich e nasceu o disco “Surface”:
Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007)
Gravado em 2006, este é um dos meus discos mais atípicos. Depois de Teatro, dedicado ao meu Avô, Fernando Amado, fundador da Casa da Comédia, encenador e autor de teatro, em Surface procurei ir mais longe na criação de um conceito que desse unidade ao projecto. Ao ouvir as gravações, feitas com uma formação muito pouco convencional de saxofone, violino, violoncelo e contrabaixo (ao trio de The Space Between juntou-se o excepcional Tomas Ulrich, um dos mais importantes violoncelistas na cena de Nova Iorque) percebi que tinhamos ido na direcção de uma música de câmara e que o elemento jazz que existia em The Space Between tinha dado lugar a um outro som, mais abstracto e austero, algo cinematográfico. A primeira associação que fiz, de forma intuitiva, foi com as imagens do Stephen Shore, um fotógrafo norte-americano com quem eu andava particularmente fascinado. Este foi também o período onde comecei a dedicar cada vez mais tempo e atenção à fotografia e, por isso, a associação ao Stephen Shore fazia todo o sentido. Editei a música mais do que o habitual, fazendo cortes de excerptos que me interessavam, pelo ambiente, pela energia que evocavam, tornando mais fácil associá-los a imagens. Os nomes dos temas foram inspirados na obra de Shore, incluindo uma Surface Suite (American Surfaces é o título de um dos seus livros mais conhecidos e altamente influente). Incluí também na edição uma série de fotografias minhas tiradas em Nova Iorque durante as primeiras visitas à cidade. Mais tarde, procurei o contacto do Stephen para lhe enviar o disco. Não foi fácil, mas finalmente, penso que através do André Cepeda, consegui. Ele gostou e enviou-me Tall in Texas, uma série de 10 postais feitos em 1971, assinada e dedicada. Foi incrível sentir o alcance e as ligações que se podem criar através de um projecto como este. Foi também nesta altura que participei num workshop de fotografia na Kameraphoto, com o António Júlio Duarte e a Céu Guarda. Tinha muito pouca experiência mas uma enorme vontade de saber, de aprender mais. Na altura, houve de imediato uma empatia especial com o António, talvez pela enorme paixão que ele também tem por música. Terminado o workshop, propus-lhe se não queria continuar a acompanhar o meu trabalho, e expliquei que não poderia ser num esquema tipo aulas porque não tinha dinheiro para lhe pagar. O António disse que sim, que estaria interessado nisso e, surpreendentemente, propôs-me fazermos um esquema de “trocas” – em cada sessão que fizéssemos eu dáva-lhe um disco de jazz escolhido e comentado por mim. E assim foi, durante alguns anos mantivémos aquela extraordinária colaboração que foi determinante para todo o meu trabalho fotográfico e que veio dar ainda origem a uma enorme amizade.
Rodrigo Amado
[OUVIR]
Artigos anteriores:
2002 Lisbon Improvisation Players – “Live_LxMeskla” (Clean Feed) Ler
2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler
2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler
2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler
2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler