Em ano de mais um novo e grande disco, “A Rose Is a Rose Is a Rose” [ouvir] , Old Jerusalem será a razão de mais um super-especial n’a trompa. Será o próprio Francisco Silva a falar-nos sobre a sua música, sobre os seus discos, sobre esses dias de feliz criação. A trompa dá o mote, o artista continua…
2007
“The Temple Bell” – Old Jerusalem (Bor Land)
No ano em que a Apple lançou no EUA a primeira geração de iPhone, Old Jerusalem…
…o iPhone pode quase ser visto como o símbolo da aceleração do ritmo das mudanças a que o negócio da música (e não só) esteve sujeito nos últimos tempos. Era um processo que já estava em marcha, mas parece-me que mesmo no caso de Old Jerusalem os efeitos se começaram a sentir de forma mais premente precisamente depois deste ano. Até 2007 ainda considerei – de forma meramente “académica” – a hipótese de me dedicar em exclusivo à música; depois, por vários motivos, abandonei a ideia de forma bastante definitiva.
Em 2007 a Bor Land lançou o terceiro disco de Old Jerusalem, “The temple bell”. Foi neste período que se foram lançando as bases do que posteriormente se tornou a “encarnação” de Old Jerusalem como banda propriamente dita, para o que em enorme parte contribuiu o facto de ter conhecido o Pedro Oliveira, baterista de múltiplos projectos que participou na gravação do “The temple bell” e que foi a base em que assentou Old Jerusalem ao vivo e em formato de banda desde esta altura.
O disco foi em geral bem recebido mas todos acusávamos algum cansaço, quer de parte de quem fazia o trabalho (músicos, produtor, editores), quer, estou em crer, de parte de quem o recebia (público e media). A Bor Land enfrentava já alguma indefinição quanto ao futuro, e começavam a sentir-se de forma mais aparente as dificuldades de gerir de forma independente um excelente catálogo que foi crescendo ao longo do tempo mas que demonstrava dificuldade em tornar-se rentável. Fizemos pela primeira vez um vídeo promocional para uma das canções do disco (“Her scarf”), em colaboração com o Pedro Lino, que foi também responsável pelo arranjo gráfico do disco. O trabalho foi assim continuando a tornar-se mais “sério” e todos fomos trabalhando com cada vez mais afinco em tornar a nossa “proposta” mais coesa, quer no que diz respeito à escrita das canções, à sua gravação, divulgação e apresentações ao vivo. Foi também neste sentido que tomei a decisão de encomendar a masterização do disco ao Alex Oana – um técnico de som que tinha conhecido há pouco tempo e com quem tinha desenvolvido uma certa amizade. O Alex tinha feito um disco que considero excelente, de um artista cujo trabalho admiro ainda bastante (“So pretty”, de Kid Dakota) e tinha-se oferecido para misturar uma canção de Old Jerusalem (o resultado foi a canção “Grasshoppers”), pelo que pareceu uma boa ideia aproveitar e pedir-lhe que tratasse também do tratamento sonoro final do álbum.
Não deixa no entanto de ser um pouco irónico que precisamente quando encarávamos todos os passos do processo de fazer música de forma mais “profissional” estivesse precisamente em curso uma certa “pulverização” desse trabalho, que veio a materializar-se mais tarde no encerramento da Bor Land no relativo desmembramento da pequena comunidade a ela associada…
Francisco Silva
Artigos anteriores:
Old Jerusalem & Alla Polacca em “Old & Alla” (2002) – LER
Old Jerusalem em “April” (2003) – LER
Old Jerusalem em “Twice the Humbling Sun” (2005) – LER
Old Jerusalem, Bruno Duarte e Puny em “Splitted” (2006) – LER