Depois de Chuchurumel, a nova aventura de César Prata responde apenas por Assobio. O disco responde pelo mesmo nome. Eis o ‘chapa 7’ de César Prata; “Assobio” é o motivo:

1. Se te pedisse que caracterizasses numa frase o álbum “Assobio”, o que dirias?
É um disco de música portuguesa, feito por portugueses. A sonoridade de Assobio resulta da utilização de instrumentos tradicionais e da mistura da tradição musical portuguesa com objectos sonoros e programações de computador. A ideia é dar à tradição uma linguagem dos nossos tempos, pois considero que a repetição pura e simples mata a tradição e retira-lhe sentido nos nossos tempos. Há ainda uma voz que imprime originalidade ao som de Assobio e um trabalho gráfico que me agrada bastante.

2. Num primeiro olhar parecem ser vários os pontos de contacto entre os Assobio e os Chuchurumel, o teu anterior projecto. Sentes que “Assobio” é apenas um disco de ‘continuidade’, ou há algum tipo de ‘viragem’? Que diferenças encontras?
Naturalmente que Assobio continua Chuchurumel, na medida em que continua o meu projecto de trabalho musical com a tradição. Todavia, considero que Assobio tem uma sonoridade mais sólida, mais madura e mais definida. Esta unidade resultará do facto dos arranjos terem sido feitos exclusivamente por mim e de também ter tocado todos os instrumentos. Assobio abre ainda outros caminhos que Chuchurumel nunca tinha trilhado: a abordagem de um tema medieval, de um tema em castelhano, de material proveniente do património oral mas que não tem (na origem) a forma de canção (Oração para tirar o sol) e a gravação de um original (Assobio).

3. Como foi feita a escolha do repertório para o “Assobio”? A voz de Vanda Rodrigues apareceu antes ou depois?
A escolha do repertório foi feita por mim. A voz da Vanda apareceu antes e fomos trocando impressões acerca do que queríamos. A escolha de algum repertório teve precisamente a ver com a voz que iria cantar aquelas canções. Em Assobio a voz é um elemento importante, não sendo mais um instrumento. Assume-se, antes, como um instrumento essencialmente diferente. As opções que segui nas misturas têm a ver precisamente com isso.

4. Que tipo de sensações esperas que as pessoas sintam ao ouvir o teu novo disco?
Ao nível sensorial espero que se concentrem no universo sonoro criado para cada canção e que consigam fazer um pequeno filme para cada uma delas. Ao nível conceptual espero que apreciem a abordagem musical que é feita e uma música de raiz que vai para lá dos ferrinhos e do bombo.

5. Se tivesses que escolher a faixa que melhor encarna o espírito do novo disco, qual escolherias? Porquê, mais sucintamente?
Pergunta difícil… Talvez… “Oração para tirar o sol”. A letra é uma oração popular do Alentejo e a música é um original; é feita com vozes (uma delas processada), programações e um fole. A utilização de objectos sonoros é algo que me interessa muito e está bem patente neste tema.

6. O que podem esperar as pessoas que forem ver os Assobio ao vivo?

Assobio tem uma cenografia simples, mas muito bonita, com vários elementos suspensos (entre os quais uma bicicleta que pedala sozinha). Nos locais onde houver condições técnicas para a montar apresentaremos essa mesma cenografia. As pessoas verão uma cantora e um músico. Um espectáculo de música portuguesa, tranquilo mas muito denso, no qual mostramos todo o disco.

7. Como vai ser o futuro próximo dos Assobio?
Assobio é um nome novo. É nossa preocupação divulgar esse nome, mostrar a nossa música e esperar a receptividade do público. Nos tempos mais próximos teremos duas apresentações importantes: uma no “Viva a Música” de Armando Carvalhêda (Antena 1, dia 4 de Junho) e outra no Festival de Músicas do Mundo de Sines (23 de Julho). Pelo meio vamos fazer showcases em FNACs e mais um ou outro concerto.

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capa de Assobio
“Assobio” – Assobio (Teatro Municipal da Guarda, 2009)

género: tradicional
sítio

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.