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2 dias n’O Sol da Caparica

Rui DinisRui Dinis

A trompa saiu à rua. Saiu sexta e sábado à tarde e foi espreitar o Sol da Caparica, um novo festival dedicado na sua essência à música lusófona e aos músicos portugueses, mas não só. Para muita pena minha, na quinta-feira não deu. Foi pena. Importante é que a música deu mesmo à costa.

Dia 15 de Agosto, sexta-feira.

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Freddy Locks © Foto: Rui Dinis

Para começar e infelizmente, já não deu para ouvir com atenção Orlando Santos. Mas o pessoal parecia feliz. Em boa verdade, para este lado, a festa só começou mesmo com Freddy Locks. Eram para aí 19h, no palco secundário – chamaram-lhe Palco Blitz. A toada foi quase sempre morna, sendo que as maiores vibrações sentiram-se já no fim com temas como o clássico “Bring Up The Feeling” e o novo “Iration”. Seguiam-se os Diabo na Cruz no Palco SIC/RFM; que é o mesmo que dizer, seguiu-se o show do xô Cruz. Para a história ficou um grande concerto, bem mais rock que popular, como se ouve em disco. Mas foi show. Já no fim, deu ainda para espreitar Macadame. O grupo liderado pela voz de Vânia Couto merecia maior assistência. Merecia mesmo. Com Deolinda assistiu-se a um dos momentos altos do dia. O grande formato dos Deolinda, com Sérgio Nascimento (Sérgio Godinho, David Fonseca, etc.) na bateria, percussão e produção, torna a experiência do grupo de Ana Bacalhau em algo ainda mais grandioso. O povo adorou. No outro lado, no palco secundário, apenas uma palavra para descrever os últimos 5 temas que consegui desfrutar de Júlio Pereira (cavaquinho): Respect. Brilhante, não menos brilhantemente acompanhado por Sandra Martins (violoncelo), Miguel Veras (viola) e Luís Peixoto (bouzouki). A merecer mais palco, mais gente. Sobre os 5-30 de Regula, Fred e Carlão, este último a jogar em casa, dizer apenas que cumpriram com o esperado. Sam the Kid deu aquela ajuda. No outro lado, a Kumpania Algazarra dava uma daquelas suas aulas de ginástica, sempre com aquela conhecida e bem vinda boa disposição. Para este vosso amigo, a noite terminaria com o aprumado espectáculo dos leceiros Expensive Soul, sempre bem agitado pelo animador de serviço, Demo. Os músicos, o coro liderado por Filipe Gonçalves e o inimitável New Max fizeram o resto, num concerto ganho desde o início. O povo adorou, outra vez. Não deu para ver Pedro Abrunhosa, já estava um pouco frio e o corpo cansado estava.

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Júlio Pereira © Foto: Rui Dinis

Dia 16 de Agosto, sábado

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Capicua © Foto: Rui Dinis

Novo dia, mais música. E o novo dia começou com a angolana Aline Frazão. E começou bem, ainda que com pouca gente e esta um pouco retraída face à doçura da voz de Aline. Logo de seguida, um grande momento com Capicua. Eram 19h e já uma pequena multidão se acercara do palco. Ver Capicua ao vivo completou o quadro que se inicia com a audição de qualquer um dos seus registos. Quando tudo é dito com alma, ritmo e sentido. Brilhante, com M7 também na voz e D-One nos pratos. Um dos grandes momentos do dia. Sobre Sensi vi pouco e o pouco que vi, não me deixou particulares recordações. Vi pouco. Depois de espreitar um pouco da morna e do funaná da caboverdiana Ceuzany, aproximei-me de novo do palco secundário onde Frankie Chavez nos haveria de proporcionar mais um grande momento sonoro. Poderoso o rock & blues de Frankie Chavez, sempre bem acompanhado por João Correia na bateria. Muito bom. Entretanto e já com algum atraso acumulado, Rita Redshoes ficou pelo caminho. Não vi. Mas se calhar devia ter visto. A opção por António Zambujo revelou-se uma das maiores desilusões do festival. Vi apenas um António Zambujo esfíngico, preocupado, pouco ligado, decidido apenas em dar a sua festa por terminada. E deu e foi pena. E depois veio David Fonseca, qual estrela do pop & rock luso. Foi um concerto cheio de energia, como é habitual, corrente sonora que nem as duas falhas técnicas conseguiram quebrar. Profissional, como sempre. Para o fim, o grande Anselmo Ralph. Estavam já 20.000 almas à sua espera e o músico não as defraudou. Mesmo que tudo pareça demasiado igual, alguém que consegue encaixar a expressão “respiração boca a boca” na letra de uma canção qualquer merecerá sempre o meu respeito.

Enfim, um festival que foi uma boa surpresa. Boa música a preços bem convidativos. E parece que para o ano há mais música a dar à costa.

[SÍTIO]

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Frankie Chavez © Foto: Rui Dinis

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.