Ainda havia uma curta escondida; e que curta. São os United Scum Soundclash. “Machine Gun” (Soopa, 2011) é o motivo da conversa.
Porquê e como nasceu o nome United Scum Soundclash?
A resposta a essa pergunta perde-se no tempo, mas poderá ter partido da sequência USS, normalmente associada aos grandes porta-aviões de guerra.
Essa sigla pareceu-nos encerrar toda uma série de elementos qualificativos do que fazíamos na altura (2004), um conjunto de pessoas que colaboravam num princípio simples de comunhão, que originava estruturas musicais que se assemelhavam a resíduos de formas já previamente codificadas (fragmentos de jazz com fragmentos de rock e de electroacústica): uma escumalha de sons produzida por uma entidade de características semelhantes a uma sociedade Pirata.
O que move os United Scum Soundclash?
Os milhares de inputs diários que surgem nas vidas dos seus participantes, vidas informadas por diásporas ao longo do globo, ou diásporas mentais a partir de eixos fixos (como é o caso da cidade do Porto) e que se desdobram em múltiplas dimensões.
Um adjectivo que vos caracterize como banda?
Três conceitos:
– rizoma
– cut-up
– third mind
Numa frase apenas, como caracterizam o novo disco?
A evocação simultânea de uma deriva pelas auto-estradas iconográficas e sem destino traçadas sobre o deserto, de uma selva mental de ocultação e guerrilha, o Pink Room do Twin Peaks, o rio infindável do Apocalypse Now.
Se tivessem de escolher a faixa que melhor encarna o ‘espírito’ dos United Scum Soundclash, qual escolheriam? E porquê?
Não é possível fazer essa escolha, não existe um elemento representativo a essa escala; a identidade de USS é um fluxo simultaneamente fragmentário e transversal, não podendo encarnar mais profundamente numa manifestação do nosso trabalho do que em outra.
Apontem duas razões para ouvir ? quiçá comprar ? o vosso novo disco?
Não existe razão. Pelo menos, nenhuma que possa ser apontada por nós. As motivações de eventuais ouvintes serão concerteza individuais.
Querem propor um disco da música portuguesa que vos tenha agradado nos últimotempos – o vosso não vale?
Podemos referir por exemplo dois: “Slow Life In The Age Of Hyperstressed Communities”, de Gustavo Costa, e “Soul Cleansing”, de Sektor 304, ambos parte de um cada vez mais vasto e diverso “corpus” de música exploratória que tem o Porto com eixo.
Para os United Scum Soundclash a Internet é…
Uma civilização de cristal, visível e transparente, baseada cada vez mais na velocidade da citação e cada vez menos na sua profundidade e número de camadas.
Há quem insista que o rock morreu. Morreu ou não?
Nenhuma música morre se tiver na sua fibra algo de maior do que apenas forma; é fácil constatar isso quando se escutam as diversas músicas arcaicas e tradicionais que persistem pelo mundo fora, e se encontram sistemas por vezes milenares com uma pertinência impressionante no tempo presente.
Como vai ser o resto do ano para os United Scum Soundclash?
Após termos tocado temas do “Machine Gun” e não só, em Julho na ZDB, com o Steve Mackay dos Stooges (que participa no “Machine Gun” e também no álbum anterior de USS) e com o Mike Watt, estamos a preparar gravações na China para o próximo disco, que continua a deriva sónica pelos terrenos intracraneanos de espaços habitados pelo rock, o free-jazz, as músicas tradicionais e o eco. Desta vez, o Sudeste Asiático projectado pelo delírio do ópio, as histórias de entidades submarinas como Cthulhu e a música cortesã chinesa traçam a linha sónica e narrativa.
U.S.S. & Steve Mackay (Porto)
| EXPERIMENTAL |
www.myspace.com/unitedscumsoundclash
www.soopa.org